Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quinta-feira, 22 de maio de 2014

O amor é lindo




Beatriz é uma mulher bela, sensual e inteligente, tem os cabelos louros, os olhos de um azul encantador, um sorriso de madona renascentista, e seu andar provoca todos os bons e maus instintos dos homens.  Nasceu para ser bela e para ser feliz.
Porém, como sói acontecer na história dos homens e mulheres, que existem de fato, e não apenas nos contos de fadas, Beatriz vivia a procura de sua outra metade, não de uma laranja, mas de um caminhão delas, já que ela era o sonho encantado de todo príncipe em busca do beijo derradeiro, antes do final feliz.
Inteligente e capaz de ocupar todo um sonho de beleza impar, Beatriz saiu pelo caminho da vida a existir e procurar o seu príncipe encantado, talvez nem tão príncipe e nem tão encantado, mas que fosse seu.
Encontrou certo dia, um homem, Pedro, que por ela se apaixonou, e que se encantou por cada detalhe, por cada pedaço de existência que era preenchido por ela. O único problema é que viviam mais de 400 quilômetros um do outro, o que de fato era um tropeço em suas perspectivas.
Encetaram então um namoro epistolar, com todas as formas de trocas possíveis, apenas não as nuvens de fumaça, porque já desnecessárias. Cansaram de ir e vir no caminho entre as cidades, a ponto de terem dado nomes particulares e só seus a cada curva, reta, bosque e árvore da estrada, porque aquele caminho fazia parte de suas histórias.
Com o tempo, o príncipe, digo Pedro, começou a reprovar-lhe os belos vestidos, os sapatos que lhe adornavam os pés, as discretas maquiagens que lhe acentuavam a beleza, o que poderia ser normal, na medida em que, os homens apaixonados são sempre muito inseguros. No entanto, ela suportava mal e acreditava que quando vivessem juntos, ele mudaria um pouco, ela outro pouco, e ambos se encontrariam num meio termo, que pudesse permitir uma vida encantada, como havia se prenunciado 6 messes antes.
O amor a tudo ilude e a tudo parece superar, mas, se Pedro queria que ela parecesse com uma “crente”  e ela o havia encontrado como Madonna, o meio termo poderia ser algo como  um filhote de jacaré com cobra, ou seja uma jacabrinha, ou ainda uma cocaré. De certeza, conceberíamos algo que poderia estar entre o brilho e o nada.
Mas, ela insistiu, porque ele era muito sério, circunspecto, determinado, tanto que se fizéssemos dele uma foto para o Face, mais se pareceria com o príncipe Bismarck do que com o belo William, esposo de Kate.
Mas mesmo assim, ela acreditava, porque acreditava em Papai Noel, em Coelhinho da Páscoa e também na velhinha de Taubaté.
Insistiu de maneira  pura e determinada naquele profundo sentimento que tinha por Pedro, sem levar em conta os 400 quilômetros, que afinal nada significavam. Ele marcava e desmarcava o casamento, como quem marca uma ida ao barbeiro, e os homens, como todos sabemos, só vão ao barbeiro quando já parecidos com o Bozo. Eu disse homens, não metrossexuais.
Vai daqui, vai de lá, chegou enfim o momento de casar, e Pedro ficou muito feliz de levar a bela Beatriz ao altar. Após as juras de praxe na frente do pastor, porque não eram católicos, sentiram-se plenos de certeza do amor que tinham, ele por ela, pensando que ela nunca ia mudar, mas desejando que ela mudasse tudo, e ela imaginando que ele ia mudar, sem saber que os homens não mudam, ou se mudam, mudam para pior.
Passados alguns anos, encontramos Pedro, muito contente com o nascimento de sua filhinha, Suzana, e perguntamos, como estava Beatriz.
-       Quem, Beatriz?
-       Sim, a sua esposa...
Descobrimos então que Pedro já se casara mais duas vezes, e que Beatriz era agora esposa de um médico, pelo que sabia, e que ela parecia uma piranha, por isso havia casado com uma mulher mais velha, que o fazia feliz.
Estranho este amor, amor tão lindo, o que aconteceu.
-       Ah! –disse-me Pedro -  quando percebi que Beatriz não entendia o que eu desejava, fui entristecendo, e a hoje minha esposa me consolou...
Sempre assim, o amor é lindo, apenas nos contos de fadas, apenas enquanto nos enganamos para descobrir que na realidade temos muitas diferenças e poucas semelhanças, e que não sabemos muitas vezes, amar o outro, tal qual é e tal qual era ao nos apaixonarmos por ela.
Mas, sempre é possível ser feliz, e é encantador saber que a felicidade está sobre os lençóis de nossas camas, que ficam manchados com a presença do desejo.
Se os lençóis não amanhecerem manchados, amarrotados, furados, enfim, tão desalinhados quanto o nosso desejo pelo outro, o amor pode ser lindo, mas o casamento é uma ....
Enfim, Beatriz viveu um grande amor, depois outro e ainda outro, e Pedro vive ainda a esperança da beatitude, onde só há lugar para o desejo, o conflito e a paixão!

Mas esta é a vida dos homens e das mulheres.