Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Biografia






Disse o bibliófilo Jules Janin...
“Muitos homens não deixaram,
Outra oração fúnebre, senão,
O catálogo de sua biblioteca!”

Penso sempre sobre minhas histórias,
Tantas histórias, quantas vezes contadas,
Todas emolduradas pela angústia permanente,
De fazer-se crer para além das faltas...

Imagino cada quadro da vida, assim, emoldurado,
Pela presença constante de amores apaixonados,
Pela ausência sentida e sofrida, do outro enamorado,
Mas sempre em busca do lugar certo, acalentado!

Não sou de acreditar em hagiografias, não as tolero,
Todo o morto torna-se santo, todo morto, sério,
De todos, anunciamos sentimentos de falta,
E sempre há alguém para fazer o discurso, oco!

Assim, mais santo do pau-oco, cheio de misérias,
Transbordante de angústias, ávido de dias,
Tenho, apenas para mim, minha história, talvez,
Ainda mais histórias que as vividas e pensadas!

Tenho uma certeza, que não supera dúvida razoável,
De que não tenho a necessidade, nem o interesse tenho,
De uma descrição biográfica dos fatos que não me dizem,
Mas certo estou, tenho uma biblioteca!

E tão pleno, tão feliz, tão inteiro fico,
Cada vez que olho, incansável olhar,
O horizonte de meus livros, que dizem,
Mais de mim do que saberia contar...

E assim, se quiseres me ler, de saber...
Olha com atenção meus livros, minhas letras,
Olha com cuidado o que escrevo e o que leio,
Terás com certeza resumo improvável...

O passado, nada mais que uma releitura infinita,
Falando de coisas diferentes, sempre que contado,
Rico de esquecimentos desejados e de lembranças,
Antes fabricadas que vividas de maneira sincera!

Não, não tenho muito o que contar sobre mim,
Que não esteja contido em cada verso que escrevi,
Em cada página que li, em cada livro que guardei,
Para ser, todo o sempre, minha oração fúnebre!

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Não é a morte, mas, não é vida






Mensagens não verbais têm linguagem vária,
Muitas atitudes dizem sim, mas também não,
A multivocidade do discurso é aterradora,
Principalmente para o homem, que é monoglota.

Não que fale apenas uma língua, mas entende uma só,
Se dizes que o ama, se dizes que o espera, se dizes...
Ele crê como se verdade absoluta, hoje, amanhã...
Não há como não morrer, mas também, não viver!

Se desejo teu corpo, mas ele me é negado...
Não te desejo menos, não me faltas menos,
Nem te percebo, sem morrer, já sem vida!
Antes, sinto mais tua falta, desejo mais teu toque!

Se me envias distintas mensagens, com teu ir e vir,
Se me envias distintas mensagens, com o que dizes,
Acredito que de expectativas se tratam cada dor,
Menos cumpridas, porque mais ambíguas...!

Não saberia dizer do estado em que vivo, do que creio,
Mas sei dizer do que sinto, e o que sinto é tua falta,
Mas não ainda morta, não ainda sem a vida...
Mas apenas aquele que acredita que vale a pena!

A distância, o tempo, as ausências podem surgir,
Não porque parto, não porque volto, não porque fico,
Elas podem se estabelecer sobre a cama de amar...
No instante que o que queres é dito de forma muda!

Não posso ser outro, nem diferente de mim, nem assim,
Nem muito menos assado, mas sempre como sou,
Muito simples para ser entendido, complexo, para ser confundido,
E assim, faz-me ainda mais incompreendido de mim!

Mas, o que será o que ainda não morreu,
Mas, que agora já não é mais vida?
Um zumbi, um espectro, um miasma?
Ou um tudo e nada que só faz doer!

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Transparente






Desejastes tanto que eu fosse transparente,
E fui me tornando, tão transparente, tão translúcido,
Que de repente, de tão transparente,
Não me vistes chegar... e também que já tinha partido!