Há já vários dias defendemos neste blog a juridicidade e a constitucionalidade do impeachment de Fernando Lugo. Hoje, 30 de junho de 2012, na sessão tendência e debates da FOLHA, o Senador da República pelo Estado do Paraná, Álvaro Dias do PSDB, escreve um texto que vem ao encontro de tudo que já dissemos neste espaço, e que agora transcrevemos na íntegra:
Senador
Álvaro Dias – PSDB/PR
A Suprema
Corte, provocada pela defesa do ex-mandatário, validou todos os procedimentos
adotados de forma autônoma e transparente pelo parlamento. Qualquer contestação
ao itinerário trilhado afronta a soberania do Paraguai.
A
movimentação canhestra que o governo brasileiro orquestrou, sob a batuta
argentina, venezuelana e de outros maestros menores, ao longo da crise
instalada no Palácio de los López, foi a primeira nota de uma partitura mal
executada pela diplomacia da Casa de Rio Branco.
Em acordes
seguintes e ostensivamente dissonantes, fizemos coro ao equívoco de impor
sanções à nação vizinha. Essa postura atenta inclusive contra a nossa Lei
Maior, que preceitua que o Brasil rege suas relações internacionais pelos
princípios, entre outros, da não intervenção e da autodeterminação dos povos.
O desgaste
crescente daquele que, a princípio, acatou a determinação soberana do Congresso
com altivez democrática e que, nos últimos dias, protagoniza a pantomima do
"gabinete paralelo" não foi percebido pela nossa competente
diplomacia.
Talvez se
explique tamanha desatenção diante de um cenário estratégico tão próximo o fato
de a nossa política externa direcionar o seu complacente olhar para apoiar
Bashar al-Assad, na Síria, Mahmoud Ahmadinejad, no Irã, e outros controversos
governantes pouco afeitos à democracia. Essa cegueira diplomática é
inaceitável.
Não podemos
rechaçar a legitimidade do processo que culminou com o afastamento de Lugo
embasados em juízo de valor sobre o conjunto de normas jurídicas vigentes no
Paraguai. A celeridade do rito aplicado pelo Legislativo está consagrada na
Constituição do país.
Condenar uma
deliberação expressa pela soberania local e arbitrar sanções são condutas
inadequadas que, além de tudo, penalizam o povo paraguaio.
O meu
entendimento, com a chancela do PSDB, de apoio e respeito ao novo governo se
ampliou em uma recente visita ao meu gabinete de uma comitiva de parlamentares
paraguaios.
Entre os
presentes, estavam os presidentes das comissões de Assuntos Constitucionais e
de Relações Exteriores do Senado, Miguel Abdón Saguier e Miguel Carrizosa, que
demonstraram exaustivamente a legalidade do processo de impeachment conduzido
por maioria esmagadora do parlamento, sem qualquer afronta ao Estado
democrático de Direito.
A delegação
foi reforçada pelo representante dos brasileiros que vivem no Paraguai, José
Marcos Sarabian. Ele foi taxativo: entre os brasiguaios, impera o sentimento de
confiança na investidura do recém-empossado Federico Franco.
Há crença
generalizada de que serão restauradas as deterioradas condições de segurança
jurídica e física impostas a esse expressivo contingente de trabalhadores desde
que o ex-bispo Lugo assumiu o poder.
O momento
não enseja bravatas. É imperioso que o equilíbrio e o bom senso prevaleçam
norteando o posicionamento do Brasil. Um comportamento histriônico destoa da
nossa secular tradição na busca da solução de controvérsias.
ALVARO DIAS, 67, historiador, é senador pelo PSDB-PR e líder do partido no Senado.
Foi governador do Paraná (1987-1991)
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