Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Uma ideia vergonhosa, travestida de necessária!




Curioso observar como os planejadores urbanos defendem agora a ideia do Pedágio Urbano, como uma brilhante ideia para melhorar o trânsito das grandes cidades.
A primeira brilhante ideia que tiveram foi o rodízio. Quem tem dinheiro compra mais um automóvel, escolhe a placa e pronto, acabou o efeito do rodízio, manobra esta ingenuamente não prevista pelos urbanistas.
Ocorre que a precariedade dos serviços de expansão e manutenção do metrô é que justificam o aumento progressivo da frota, porque o povo quer conforto. Ora, bendizemos que muitos brasileiros ascendam das classes D e E para a C. Qual o primeiro desejo destes brasileiros que apostaram nas promessas de progresso pessoal? Entre eles está a aquisição de seu veículo, marca da liberdade de ir e vir!



Quando isto se torna incomodo, os estudiosos de plantão voltam a buscar meios alternativos de transporte, e começa a defesa da bicicleta, o que é risível não fosse ofensivo a nossa inteligência. Imaginem alguém que trabalha no centro financeiro de São Paulo e mora no Itaim. Subidas, decidas, tráfego, enfim, impossível vislumbrar a possibilidade de ver a magrela como alternativa. Para piorar, vamos multar todo mundo que esteja a menos de 1,50 metro dos ciclistas, para infernizar a vida do cidadão!
Bom, vamos então compelir a população a andar de ônibus, mas em Curitiba há perda de usuários do sistema. Mas o planejador quer melhorar o sistema, o que em último caso é um absurdo, é um contrassenso, porque o povo, o cidadão quer andar com o carro que agora é possível ter, que agora lhe foi permitido adquirir, na tão suada busca de ascensão social.
Chegam os estudiosos a cifras mirabolantes de perdas com a lentidão do tráfego, calculando prejuízos ambientais, à saúde pública ao meio ambiente. Sinceramente faz muito mais sentido perguntar, quanto faz mal tudo que os planejadores pensam!
É lindo acusar que o país fez uma escolha pelo  transporte rodoviário individual, que é um modelo que se construiu contra o ferroviário e o coletivo, que nós estamos no pior dos mundos, que o trânsito é infernal, que as vias estão saturadas e as alternativas públicas são insuficientes e ruins! O caos sempre leva a boiada para o pensamento único!



Que candura!
Na realidade o que se quer é retirar das ruas o carro do povo, do pobre, porque o rico, aquele da classe A, pode pagar o pedágio, custe o que custar, quer o poder público novamente defender privilégios daqueles que podem pagar. O mais interessante é que os próprios alienados dos seus direitos não percebem a desonestidade dos argumentos.
Obviamente que se tivéssemos bons carros de metrô, se tivéssemos máquinas novas, boas linhas, estações que convidam ao transporte coletivo, mesmo os cidadãos da classe A o utilizariam. Mas ele não é assim, por quê?
As ruas são estreitas, esburacadas, com desníveis, caóticas, por quê? Os ônibus são veículos de tortura, desconfortáveis, sujos, nojentos, com motoristas sempre descontentes e estressados, por quê?
Porque estes meios são feitos para pobres, e devem marcar a distância social daquele que anda de SUV pelas ruas.
Um mecanismo inteligente de diminuir o tamanho dos veículos é alíquotas progressivas de IPVA. Quem tem carros mais caros e maiores não pode pagar a mesma alíquota de quem tem um carro menor que 4 metros, e popular! Mas não é assim, por quê?
São Paulo, Porto Alegre, Curitiba estão mais caóticas por quê? Porque as escolas privadas se apropriam da via pública para que os pais da elite façam não mais fila dupla, mas até tripla para pegar os filhos. As mães candidamente respondem quando questionadas na fila dupla – Mas só estou esperando minha filha! Sim, pode esperar sua filha onde quiser, mas não na via pública.
Inteligentemente as prefeituras não mais incentivam a construção de estacionamentos nos centros da cidade, para diminuir o fluxo de carros. Como são inteligentes os urbanistas. Ao não fazerem grandes estacionamentos públicos, enriquecem os donos de terrenos privados, que pagam para que não se ampliem os espaços, encarecendo soberbamente o estacionamento, e novamente selecionando quem pode andar de carro e estacioná-lo na cidade!
Claro que o pedágio urbano por si só não resolve o problema, nem é uma solução que minimamente seja efetiva, apenas vamos selecionar quem pode andar de automóvel na cidade, que é a intenção disfarçada da farsa montada pelos urbanistas que é alijar os recém-admitidos ao consumo de veículos da possibilidade de utilizá-los!
O que melhoraria o trânsito seria a redução do volume dos automóveis, a proibição da apropriação privada do espaço público, regras bem definidas de punição ao abuso irresponsável dos direitos de conduzir, a oferta de um transporte público descente, limpo e agradável, de custo acessível, a efetividade das multas independente do nome e sobrenome de quem for multado, a retirada efetiva dos veículos sem condições de circular!
Mas pedir estas simples e decididas operações é pedir muito, melhor é pensar uma maneira de alijar, tornando politicamente correto o discurso, todo o povo para que não possa utilizar seus veículos, para que a elite possa circular livremente pela cidade!
Como disse, e se não disse deveria ter dito De Gaulle: Este país não é sério!

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