Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

terça-feira, 5 de junho de 2012

Para lá de histórico!




O Texto de Ruy Castro na FOLHA do dia 04 de junho de 2012 deve ser lido e meditado, num país que tem muito pouco apreço por sua memória e por sua história! Não deve ser acrescentado ou comentado, mas lido, para que possamos olhar o mundo de nossas cidades a nossa volta e perceber o quanto já destruímos de nossa história!

Ruy Castro

RIO DE JANEIRO - Algumas das construções mais antigas ainda de pé no Rio levam uma assinatura: a do engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim (1700-1765). São dele igrejas como a de Nossa Senhora da Conceição, de 1735, na rua do Rosário; a da Lapa do Desterro, de 1751, no largo da Lapa; e a de Nossa Senhora Mãe dos Homens, de 1758, na rua da Alfândega; o Paço dos Governadores, depois, dos Vice-reis, e, hoje, Imperial, de 1743, e o Arco do Telles, de 1757, ambos na praça 15; e nada menos que os Arcos da Lapa, de 1750.
Outra obra de Alpoim, esta de 1740, foi o Convento dos Capuchinhos, na atual rua Evaristo da Veiga. Ali se plantaram as primeiras mudas de café, que logo tomariam o Vale do Paraíba e fariam do Brasil outro Brasil. Em 1831, o convento foi transformado em quartel, e dele, em 1865, saíram os voluntários da pátria para ir espancar o Paraguai.
É este o prédio que, de há muito, se tornou o quartel central da PM, e, hoje, ameaça ser vendido e derrubado pelo Estado para que a Petrobras construa ali mais uma sede. Por sinal, bem perto de sua medonha sede principal, na avenida Chile, onde forma com a Catedral Metropolitana -qualquer semelhança com uma usina nuclear de filme de 007 é mera coincidência- um conjunto arquitetônico intolerável de horror.
Não que a Petrobras não tenha para onde se espalhar no Rio. O porto é uma opção; a Cidade Nova, outra; e os terrenos baldios da avenida Presidente Vargas, ainda outros. Seu inevitável gigantismo ficaria à vontade nesses megaquarteirões anti-humanos. Não em ruas delicadas, como as do entorno dos Arcos.
Proponho que os prédios de José Fernandes Alpoim sejam equiparados aos de Oscar Niemeyer -que, por inescrutáveis desígnios, já nascem tombados. Que os do para lá de histórico Alpoim sejam tombados para não morrer.

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