Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

domingo, 26 de agosto de 2012

Dias Toffoli e a degenerecência da sacralidade da Justiça




Podemos imaginar que o problema que aflige a consciência de Dias Toffoli como ministro do Supremo Tribunal Federal seja o conflito entre a ética da convicção e a ética da responsabilidade. Quero antes de tudo, fazer duas observações pessoais: primeiro que para haver um conflito de consciência, o sujeito tem de ter consciência de sua responsabilidade, coisa que desconfio não exista neste caso, e em segundo lugar, que o conflito nasça de uma liberdade do sujeito sobre suas dívidas afetivas, dívidas cortesãs e palacianas, coisa que aqui me parecem obviamente os determinantes da conduta de Dias Toffoli.
Quando o cidadão e a cidadã ingressam na carreira política, um dilema fundamental para os políticos se impõe, qual seja o de seguir suas convicções pessoais ou a de tomar decisões impostas pelas circunstâncias.
Como fazer para que se possa manter um mínimo de coerência entre o que pensamos e aquele agir com responsabilidade no debate público! Ora, ao acusarmos os políticos de traidores de suas promessas e oportunistas, nós apenas denunciamos o falso moralismo que cerca estas mesmas críticas.
Quando votamos em alguém que acredita que contratar mil médicos e forçar a existência de um terceiro turno de atendimento no serviço de saúde, por acreditar que estas propostas são sérias, bem pensadas e, portanto, a solução dos problemas de nossa cidade, nós temos a má consciência de votar em balelas, em discurso vazio.
Quando votamos em prefeitos que dizem que criarão um Batalhão de Polícia Militar num bairro e abrirão quinze delegacias especiais para crimes especiais, também votamos com motivação escusa, porque simplesmente o prefeito não pode fazer isso, o prefeito não tem competência para fazer isso, e se propagandeia isso é um ignorante, então nosso voto é anti-ético, é oportunista!
Quando votamos num candidato a prefeito apoiado por ex-governadores e ex-presidentes que muito, muito pouco fizeram por nossa cidade, que são nepotistas, tão corruptos quanto os outros por terem filhos e irmãos com passaportes especiais dados graciosamente pelo Itamaraty, que vergonhosamente não tem mais política externa, estamos votando em alguém que não merece sequer ser candidato.
Sim, foi na Grécia que fizemos, nós homens as primeiras reflexões sobre a responsabilidade ética de agir, e apesar de as decisões políticas não serem tomadas de forma livre, porque não podem, não devem ter como origem nossas convicções pessoais, como não desejar que nossa filhas vejam dois homens se beijando em praça pública, temos de nos submeter à ética da responsabilidade.
Posso até não ter como convicção, o que não é o meu caso assinale-se, que o casamento de pessoas do mesmo sexo seja desejável, no entanto, o afastamento exigível neste e em muitos outros casos, de minhas crenças e suposições pessoais, e portanto a adoção de medidas muitas vezes contraditórias com o que acredito, é determinado pela ética da responsabilidade, que tem como objeto final o bem estar público, o desenvolvimento da cidadania, o engrandecimento do espaço político público e plural.
Isto é o que devemos exigir de nossos governantes e de nossos ministros, Dias Toffoli trai tudo isso, regendo-se por uma prática ética particularista, subjetiva, antirrepublicana, e que ofende o decoro de Ministro do Supremo Tribunal Federal.

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