Podemos imaginar que o problema que aflige a consciência de Dias
Toffoli como ministro do Supremo Tribunal Federal seja o conflito entre a ética
da convicção e a ética da responsabilidade. Quero antes de tudo, fazer duas
observações pessoais: primeiro que para haver um conflito de consciência, o
sujeito tem de ter consciência de sua responsabilidade, coisa que desconfio não
exista neste caso, e em segundo lugar, que o conflito nasça de uma liberdade do
sujeito sobre suas dívidas afetivas, dívidas cortesãs e palacianas, coisa que
aqui me parecem obviamente os determinantes da conduta de Dias Toffoli.
Quando o cidadão e a cidadã ingressam na carreira política, um dilema
fundamental para os políticos se impõe, qual seja o de seguir suas convicções
pessoais ou a de tomar decisões impostas pelas circunstâncias.
Como fazer para que se possa manter um mínimo de coerência entre o
que pensamos e aquele agir com responsabilidade no debate público! Ora, ao
acusarmos os políticos de traidores de suas promessas e oportunistas, nós
apenas denunciamos o falso moralismo que cerca estas mesmas críticas.
Quando votamos em alguém que acredita que contratar mil médicos e
forçar a existência de um terceiro turno de atendimento no serviço de saúde,
por acreditar que estas propostas são sérias, bem pensadas e, portanto, a
solução dos problemas de nossa cidade, nós temos a má consciência de votar em
balelas, em discurso vazio.
Quando votamos em prefeitos que dizem que criarão um Batalhão de
Polícia Militar num bairro e abrirão quinze delegacias especiais para crimes
especiais, também votamos com motivação escusa, porque simplesmente o prefeito
não pode fazer isso, o prefeito não tem competência para fazer isso, e se
propagandeia isso é um ignorante, então nosso voto é anti-ético, é oportunista!
Quando votamos num candidato a prefeito apoiado por ex-governadores e
ex-presidentes que muito, muito pouco fizeram por nossa cidade, que são
nepotistas, tão corruptos quanto os outros por terem filhos e irmãos com
passaportes especiais dados graciosamente pelo Itamaraty, que vergonhosamente
não tem mais política externa, estamos votando em alguém que não merece sequer
ser candidato.
Sim, foi na Grécia que fizemos, nós homens as primeiras reflexões
sobre a responsabilidade ética de agir, e apesar de as decisões políticas não
serem tomadas de forma livre, porque não podem, não devem ter como origem
nossas convicções pessoais, como não desejar que nossa filhas vejam dois homens
se beijando em praça pública, temos de nos submeter à ética da
responsabilidade.
Posso até não ter como convicção, o que não é o meu caso assinale-se,
que o casamento de pessoas do mesmo sexo seja desejável, no entanto, o
afastamento exigível neste e em muitos outros casos, de minhas crenças e
suposições pessoais, e portanto a adoção de medidas muitas vezes contraditórias
com o que acredito, é determinado pela ética da responsabilidade, que tem como
objeto final o bem estar público, o desenvolvimento da cidadania, o
engrandecimento do espaço político público e plural.
Isto é o que devemos exigir de nossos governantes e de nossos
ministros, Dias Toffoli trai tudo isso, regendo-se por uma prática ética
particularista, subjetiva, antirrepublicana, e que ofende o decoro de Ministro
do Supremo Tribunal Federal.
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