Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Uma História do Parlamento de Paris




Esta é uma pequena estória, que aconteceu nos idos de 1775, um ano após a reinstauração do Parlamento de Paris por Luis XVI. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
Todos sabemos que durante o reinado de Luis XVI houve o escândalo do Colar, que envolve uma antiga parenta da dinastia de Valois, o Cardeal de Rohan e a Rainha Maria Antonieta.
O colar que na verdade foi comprado pelo ministro Turgot para comprar os votos dos pares de França para aprovar aumento de impostos, foi vendido lentamente, em partes e seus recursos regiamente distribuídos entre os pares de França que deveriam votar novas tungadas nos bolsos do povo francês!
Sabiamente o Cardeal de Rohan que desejava assumir o posto de principal ministro do Rei, distribui as prebendas, e tem um grande amigo, um advogado sombrio, que nunca conseguiu passar em qualquer concurso para juiz, apesar de ter tentado, e nunca escreveu qualquer linha de direito real que lhe fizesse admirar, mas que se lhe prestou prontamente para atuar como protetor, se por algum motivo fosse descoberto o esquema. Este nosso advogado Armand Thomas de Mirmesonil, era muito subserviente, e muito ativo, apesar de algo incapaz de exercer com brilho seu ofício.
Quando todos sabiam que o escândalo do Colar, o mais espetacular de toda a França monárquica, havia desencadeado um onda de fervor e indignação popular, o Cardeal de Rohan colocou, indicando os bons préstimos e a subserviência, a Armand Thomas como advogado geral do Reino, e para entrar em contato com todos os envolvidos para tentar aplacar a fúria popular e dos libelos.
Neste ínterim, Armand Thomas conheceu uma jovem e destemida estudante de direito que servia de defensora de um dos pares que haviam recebido suas parcelas ordinatórias, para votar novas vantagens para a nobreza e impostos para o povo. Tratava-se da inteligente Madame de Rangeaux.
Percebendo a oportunidade de se tornar mais íntimo da Corte, ficou enamorado Armand Thomas de madame, o que permitiu a indicação do Rei, não só por ser amigo de Rohan, por saber todos os fatos concernentes ao Colar, mas tão somente, e mais importante, ser íntimo da Corte e por namorar Rangeaux. Foi assim, indicado para o Parlamento de Paris. Porém, como o cargo era hereditário e deveria ser pago à Coroa, e estando Armand Thomas já envolvido com processos por falta de dinheiro, ficou combinado que pagaria durante os julgamentos, ou mesmo com estes.
Descoberto o imbróglio de sua escolha, Armand Thomas não sabia se julgava o processo do Colar, por obviamente impedido, ou se julgava, para então pagar a prebenda recebida.
Restif de La Bretonne assim relata a encruzilhada moral e judicial de nosso personagem estórico, em diálogo com Madame de Rangeaux:
- Querido, você não pode julgar o Escândalo do Colar, você é amigo do Rei, indicado pelo Rei, advogado do corruptor dos pares, não tem o dinheiro necessário para pagar sua prebenda, e ainda por cima, sabes de meu envolvimento no Escândalo, por favor seja bonzinho, não julgue vai!
Responde Armand Thomas:
- Mas sabes que devo isso ao Rei, devo-lhe literalmente o cargo, devo-lhe as sinecuras e prebendas, não posso desapontá-lo!
- Ah! Querido! Depois que deixaste esta vasta barba, e que passou a projetar o seu maxilar para frente, para parecer mais aristocrático, nunca mais fez minhas vontadinhas, você sabe que a maioria dos ministros também foram escolhidos pelo Rei, o Escândalo não dará em nada!
- Mas querida, minha lealdade é incondicional, e favor tem que ser pago, custe o que custar!
- Querido, quantas coisas já lhe contei por entre estes lençóis, até não disse que vivia contigo, mas que era apenas sua madame, já lhe contei todos os segredos do Escândalo para que você pudesse trabalhar os outros juízes do parlamento. Não mereço um denguinho?
- Minha querida, mereces tudo, mas esta prebenda me foi dada, tenho que retribuir-lha!
- A benzinho, o Rei pode até perder a cabeça, mas se me queres tua, como agora, desiste vai, não é preciso!
- Madame, farei o que me pedes, ou não farei, mas até decidir, manterei o povo em suspense, para que os panfletos me deem notoriedade, afinal agora sou um Ministro do Parlamento de Paris! Vê como fiquei bonito de barba!
- Lindinho, você é o máximo, mas não esquece do que te pedi!
- Se o Rei não mo pedir o contrário, obedecerei, pois não posso ficar sem tua zezete!
Smacs... intensos.
E assim, começou a Revolução, entre os lençóis dos ministros do Parlamento de Paris! O povo continuou a não entender porque assim eram escolhidos os ministros, e porque quando os pobres roubavam galinhas eram presos, mas aqueles que compravam pares, cargos e ministros eram inocentados! O povo continuou bestificado, porque os jacobinos incitavam-no à honra, à honestidade, à comuna, mas quando no poder, aplicavam as regras do terror, até aniquilar a oposição pela guilhotina, ou pelo empastelamento da imprensa! O povo, ora o povo, continuou acreditando que papai Noel e coelhinho da Páscoa existem, e ao ver o Parlamento de Paris, acreditavam que lá havia nobres togados, sabedores do direito! Pobre povo!
Uma homenagem a Nicolás Edme Restif de La Bretonne.

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