Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

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Ando pelas ruas, pensando no que devo fazer, no que tenho que fazer, no que quero fazer, e descubro que não há qualquer sentido, mesmo que buscado e esperado.
Vejo uma multidão de anônimos circundantes, todos desconhecidos, todos ensimesmados, todos buscando um sentido que não existe, buscando algo onde não há nada para ser achado, todos correndo atrás de um tempo que é mera convenção, sem perceber que nada há para ser perseguido, conquistado, vivido...
Escuto música, uma música que vem de outros tempos, onde outro eu era e sonhava com outras coisas que não mais ouso sonhar. Ouço as músicas com o prazer saudoso de um tempo que não mais existe, de uma alegria, de uma juventude que foi, para não mais voltar. Ouço as músicas que me prometiam tanta energia, alegria, conquista e ação, que se frustraram num mar de obrigações, compromissos, valores alienígenas à minha alma.
O país que percorro traiu sempre, e tal como algo previsível, permanece traindo todas as promessas de que um dia viveria bem, sem inflação, sem juros altos, sem correção monetária, sem o descalabro de um sistema político ilegítimo e injusto. Continuo a viver num país de fancaria, onde a banda permanece passando para gáudio da patuleia, para o entorpecimento das consciências, onde todo jogo político é magia para produzir mais sofrimento, desmando e desalento.
O futuro que nos aguarda é nenhum, os que podem, partem destas terras onde não mais canta o sabiá, nem a arara, nem o canário, onde o que canta são as aves de agouro, cantando o círculo vicioso do país do futuro que fica sempre num futuro cada vez mais distante.
Caminho pelas ruas como se fossem leitos secos de rios extintos há muito na memória do tempo, onde só há pedras e poeira, onde não mais existem peixes, onde não mais encontro esperança. São como veias ressecadas pela violência da divisão provocada e fomentada pela esquerda vil, que se apropriou de nossas consciências.
Não me sinto culpado pelas misérias que assolam meu país, sinto-me antes vítima dos discursos segregacionistas, revolto-me com o retorno do conceito de raça, repugna-me as clivagens artificialmente criadas na sociedade de um país tão pobre.
Acreditei um dia que viveria num país com inflação decente e moeda forte, depois de tanto desespero vivido como consequência de um insano nacional desenvolvimentismo, dos incapazes gerentes militares do Estado nas décadas de 70 e 80. Mas não tive sorte, surgiu no país um salvador da pátria, um novo Dom Sebastião que sucumbiu num novo Alcácer Qibir, agora feito de mensalões e petrolões. Não sem antes reproduzir na nova matriz econômica todos os erros do nacional desenvolvimentismo. Mas na sua jactância, plena de ignorância, não conseguiu mais do que desfazer a promessa de um novo país.
Caminho pelas ruas como se fossem as de Berlim em 1945, porque restam apenas escombros de nossas esperanças, escombros da mensagem estúpida de que não deveríamos ter medo de ser feliz.
Nossa sociedade armou uma arapuca em que todos os nossos sonhos e esperanças são presos e devorados, por um Estado gigante que só tem coragem de ameaçar e estraçalhar os homens de bem, os que trabalham, que sonham, que constroem família, e privilegiam os parasitas e os ideólogos de alienígenas pensamentos de esquerda.
A canícula que abrasa este país nada mais é que a proximidade que chegamos das chamas do inferno de Dante, onde todas as boas intenções das más consciências ardem na pira gigantesca da corrupção, do desmando, da estupidez, da incapacidade, do apadrinhamento, da insensatez e da cupidez.
Fossem outros os homens, fossem outros os tempos, já teriam embarcado os mandatários para além Oceano, para morrer em paz, longe destas terras. Mas qual um país às avessas, mandamos morrer em Paris o mais honesto dos governantes, apegam-se ao poder os mais corruptos.
Exércitos de insanos, que se dizem movimento, permanecem ativos para ameaçar a liberdade e a democracia, permanecem alertas para ameaçar a liberdade de pensamento, embaralham impeachment com golpe, esquecendo que o poder, em última instância, é poder do povo, que pode revogar a qualquer momento o mandato que concede.
Desalento... ando nas ruas e penso: ...

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