Caminhava solitário
por uma alameda. Assim pensava, porque quando criança, disseram-lhe que uma
alameda era um caminho, uma rua, cercada de árvores.
Enfim, era uma
alameda, como a concebia, desde há tanto tempo, que já não se recordava, nem
quem, nem como lhe haviam dito que aquele caminho era uma alameda. No entanto
caminhava.
Caminhava de lugar
algum, para não sei onde! Não importava, porque afinal, aquele caminhar não
tinha nenhum sentido, que não o exclusivamente caminhar. Não poderia ter,
porque seus sentimentos, eternamente em conflito, não lhe davam paz, nem lhe
permitiam efetivamente viver o que pensava estar vivendo.
Amava, sim, amava
quem sempre amou, mas não era mais o mesmo, ou ela já não era mais a mesma,
mesmo que isso não tivesse importância, já que o que importava era estar ao
lado dela. Mas, por que então caminhava?
Caminhava para saber,
porque tantos jovens, apaixonados loucamente, se desesperavam loucamente apenas
pela perspectiva de que não se veriam na segunda e na terça, mas apenas na
quarta-feira já que seus pais não o permitiriam antes. E eles não o
permitiriam, porque os apaixonados têm uma forma de pensar única, onde há
apenas um sentir, um pensar, um compreender o mundo, o que não é compatível com
qualquer outra tarefa.
Sim, caminhava,
porque percebia naqueles rostos felizes, naqueles sorrisos, naqueles beijos
apaixonados, alguma coisa que ele não perdera, mas também não reencontra. Não
consegue entender o que há, que já não encontramos o prazer da mão que se toca,
do beijo que se demora, das línguas que quase se enroscam em definitivo, como
se nunca mais pudessem ser separadas.
Onde está aquela vontade
louca, que nele permanecia, de ver o que estava para além da barra insinuante
da saia, que apenas fazia entrever a coxa. O prazer de ver os joelhos, os pés,
os lábios, a mão, o cotovelo, o braço, de uma alvura que só a imaginação é
capaz de conceber?
Caminhava, e descobriu
que naquela alameda, havia perdido a si mesmo, ou perderam-no, e que agora,
buscava incansavelmente. Onde estariam todas aquelas promessas? Soterradas nos
horários a cumprir no trabalho? Nas contas a serem pagas no final do mês? Nos
filmes idiotas assistidos incansavelmente para que o seu pensamento
permanecesse entorpecido?
Caminhava solitário
por aquela alameda, e já nem sequer sabia por que era uma alameda, mas apenas
que era um caminho, sem volta e, portanto, tão doloroso quanto possa ser, a
perda de nós mesmos, em um lugar inalcançável, em um canto tão escondido, que
irreconhecível para nós mesmos.
Caminhava tão só que
ao cruzar com um adolescente tão semelhante a ele, cheio de certezas, tão
alegre e cheio de vida, não o reconheceu, porque era ele que passava, no
sentido contrário, ainda na busca de si mesmo, apenas mais confiante, porque no
jovem há uma certeza que ele esquecera em algum lugar.
A de amar para
sempre...
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