Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

sexta-feira, 10 de março de 2017

Torrente




Escrevo porque meu cérebro está inundado,
De sentimentos, angústias, desesperos,
Minha vontade é sair, gritar, agitar-me...
Não o faço, porque minha insuficiência me paralisa!

Mas se paro, porque temo...
Dói e cada minuto e segundo,
Vivo ainda mais transbordante,
Do que antes, e permaneço no que sinto!

Não consigo caminhar rápido o suficiente,
Não consigo dizer tudo o que passa em mim,
Mas sinto, cheiro, vejo, desespero...
Porque não posso fazer um dique para apaziguar-me!

A velocidade aumenta, as águas embarradas,
De todos os pensamentos, me devastam,
Arrasando cada lugar e não lugar,
Cada fração de meu existir, furibundo!

Destruído pela fúria de um pensar,
Que não cessa, que escapa dos diques,
Dos canais, das barreiras...
Para inundar de non-sense  todo eu!

Estou agora devastado, vazio,
Mesmo assim, transbordo-me...
Com uma violência que me fragmenta!
Atormentado sempre pela fúria do pensar!

As palavras, os sons, as imagens,
Não dão conta do frenesi que me invade,
E tudo fica sem sentido, a vida esvazia-se,
Para dar lugar a um silêncio envergonhado!

A torrente não para, até que tudo fique aniquilado,
Desditado, vazio, dolorido, estéril,
E então, caminho a passos lentos, para o repouso,

Marmóreo, plúmbeo, da solidão de existir!

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