Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

sábado, 11 de março de 2017

Labirinto




Percorro as ruas, todos os dias, existindo e refletindo nossa solidão, como se andasse num labirinto, sem um prêmio a ser encontrado!
Vejo horas e minutos passarem, com uma relatividade que não consigo apreender, muitas vezes um tempo que voa, porque tanto o desejo, outras vezes tão lento, como que para me torturar por fazer ou deixar de fazer aquilo que não desejo.
O espaço se transforma numa tortura que o demiurgo Arimã usa como tortura para um corpo tão limitado, mas tão cheio de desejos e paixões. Queria estar em outro lugar, em outro tempo, com outra presença, mas estou preso aqui, e vejo muros, nuvens, fachadas, automóveis, pessoas e animais, que sempre os mesmos e sempre outros, se confundem numa sucessão de labirintos que levam a lugar algum!
Hoje o tempo se arrastou, deformado pela espera, deformado pela ansiedade de um encontro, tornado possível apenas pelo que penso e sinto, como se eu fosse todo o  meu pensamento, materializado na leitura do outro. Existo sim, em outros lugares, em outras formas, em outros tempos, sinto a presença do outro que retém na leitura uma imensa parte de mim!
A felicidade que me tomou ao saber que duas almas podem se encontrar fora do cárcere e do labirinto da existência no concreto, que escapam ao espaço e ao tempo, para se encontrarem nos versos, nas palavras e no pensamento, tomou-me de surpresa, e agora, arrastasse o tempo para um encontro nunca imaginado, percebido ou intuído!
Estamos presos e condenados ao labirinto das cidades de concreto, dos asfaltos, semáforos, placas, da selva de rostos, de vazios, e nem percebemos que o labirinto está dentro de nós mesmos, onde permanecemos incapazes de romper com o conformismo, de poder se lançar no abismo do outro, cujo encontro se produziu apenas por sentir o que sentimos!
O que nos retém neste labirinto? Talvez nossa falta de coragem, mas a dor de pensar é já liberdade. Mas Sócrates disse que a liberdade está no agir, pois então, que a sorte esteja lançada, e que possa precipitar-me ao encontro daquele outro que tocou-me a alma porque decifrou-me nos versos soltos que fiz!

Desesperadora a perspectiva do labirinto que agora percebo, mas que sempre desejei se desfizesse no encontro dos olhos de quem sabe ler-me!

Um comentário:

  1. Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso...Fernando Pessoa coloca de maneira magnífica que jamais devemos matar um sonho. E o sonho a que se refere a tão intimista e ao mesmo tempo declarada leitura me leva a fazer minhas as palavras de Fernando Pessoa! Matar o sonho e matamo-nos. Concretiza-lo é viver a plenitude do mesmo!

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