O homem que
apanhara o pedaço de jornal, numa rua qualquer, de uma cidade qualquer de um
país qualquer, num impulso o guarda como tesouro em seu bolso, e segue em seu
retorno para casa.
Algumas quadras
mais e chega a uma pequena casa, um espaço ou um lugar no tempo, onde seus
ossos, cansados e subjugados pelos anos vividos, encontravam algum repouso,
merecido repouso pela vida que se estende, sem sentido, sem objeto, mas sentida
plenamente em cada ato de existir.
Recolhe o molho de
chaves, tantas chaves, em quantidade muito maior do que as fechaduras que ainda
tem para abrir. Chaves que foram se somando, portas que foram guardando
segredos, histórias, esperanças. Chaves que nunca mais foram usadas, mas que
embutiam em sua presença uma esperança nunca encerrada.
Com dificuldade
identifica a chave que lhe franqueia a porta de entrada, retorna, abre a
passagem para um mundo que parara no tempo. Que fizera questão não sofresse
transformações desnecessárias, em que se acumulavam fragmentos do mundo como
pó, fragmentos de história como decomposição.
Avança pela sala,
quando cruza com o espelho do banheiro social. Contempla então, com olhos de
estranho, uma face enrugada, distante, alheia, irreconhecível, marcada.
Só então percebera,
que quando os jornais sumiram, os livros deixaram de existir, que ninguém mais
encontrava um motivo para ler seus escritos, ele mesmo passara a ser um
estranho cujo desencontro, acontecia todos os dias, em cada marca que lhe
acrescentava o tempo na pele que não mais sentia!
Doeu, o retorno,
daquele que sumira, dentro de si mesmo, contemplado no vazio dos próprios
olhos!
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