Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

terça-feira, 18 de julho de 2017

Solidão




Estava sentado na poltrona a um canto da sala. Olhava com estranhamento todas as coisas tão comuns, tão permanentes que o cercavam, depois de se ter fitado com tanta surpresa no espelho que havia denunciado o seu retorno.
Recordava todas a vidas que vivera, todas as pessoas que fizeram parte de sua história, que lhe preencheram o vazio de uma existência sem objeto. Sentia a presença de cada uma, e do quanto lhe transbordava a dor da ausência de cada uma.
No entanto, não mais sabia se estava cercado de fantasmas, pessoas ou memórias. Sentia-se só, vazio, fitava o infinito da poltrona que lhe servia como promontório. Fitava o passado como um vasto mar de recordações, que subiam e desciam como marés e o convidavam a lançar-se do precipício da saudade para as rochas do desespero e da solidão.
Respirar lhe doía. Arfava. Percebia a profundidade da estranheza que sua vida havia adquirido com o passar do tempo, sem que tivesse percebido que sua existência tivesse se constituído em diferenças na terra ou no céu, nos rios ou nos lagos, nas pessoas ou nas pedras.
Fechou os olhos e passou a repetir lentamente o nome daquelas que amou. Repetiu, repetiu, repetiu seus nomes como uma invocação, esperando que houvesse uma resposta. Queria ouvir apenas que alguém se importava com o fato de ele ainda existir para além do tempo, para além da amada, para além do desejo, que a longo tempo ficara sem resposta.
Sentia o palpitar do coração, a dilatação das têmporas, o ar passando pelas narinas e estendendo o tórax. Estava vivo, não sabia por que? Talvez por mera preguiça, por covardia, por acomodação, quem sabe?
Ali na penumbra da sala, colhida entre o familiar e o alheio, entre o instante presente e um passado atemporal, descobriu-se dolorosamente vivo. E de tantas vidas vividas, restou-lhe um suspiro.

Abriu lentamente os olhos para o nada!

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