Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

terça-feira, 3 de julho de 2012

Barganha Eleitoral é elemento intrínseco do jogo político no Brasil




Recentemente Luiza Erundina após ter sido indicada para vice-prefeita na chapa do ex-Ministro Fernando Haddad, renunciou à indicação e coerentemente o fez pela aliança espúria de Lula da Silva com Paulo Maluf.
O fato é que Luiza Erundina que já havia deixado o PT por motivos de incoerência ideológica do partido e por ter sido considerada persona non grata no partido na medida de sua consistência ideológica, de seu compromisso com as ideias historicamente defendidas pelo partido.
Será que alguém se indignou com a atitude de Lula da Silva? Será que alguém ainda tem uma reserva de perplexidade para com os atos do ex-presidente? Com todas as ações que demonstram uma grande avidez pelo poder, e um completo descaramento e amoralidade, não há que se surpreender ou se indignar com as atitudes do ex-presidente metalúrgico.
Não acredito que haja maior simbolismo na atitude provocadora de ir à casa de Maluf com o bom mocinho para pedir apoio e voto. Afinal de contas, Dilma antes de ser eleita presidente nunca foi eleita absolutamente nada, nunca pertenceu ao PT antes de fazer parte do ministério de Lula da Silva, e por fim o projeto pessoal do ex-presidente está acima de qualquer consideração ideológica ou de amadurecimento das instituições políticas da nação.
Os nobres sentimentos de Erundina de que cabe ao líder elevar a consciência e a politização da sociedade nunca, repetimos, nunca esteve nos horizontes do PT real, e principalmente de Lula da Silva. Daí que a busca de conquistar o poder político do município para colocá-lo a serviço dos setores populares menos favorecidos é uma utopia, está fora do projeto de partidos que constroem projetos de poder, de perpetuação no poder.
Não há, nem haverá perspectiva de mudanças do ordenamento político porque este serve hoje à instrumentalização do Estado pelo PT e seus asseclas. O projeto político de José Dirceu foi construído com imenso esmero e eficiência, e está calcado na doutrina de Nikos Poulantzas. Ora, se não consigo alterar a estrutura jurídica do Estado sem assaltá-lo, preciso primeiro dominar as instituições. Em seguida corrompê-las para que se prestem a uma mudança de instrumentalização, e por fim submeto a sociedade aos ideais elevados da nomenklatura.
A afirmação constante da necessidade de uma reforma política é no Brasil uma mesma e repetida história das dificuldade educacionais que existem desde a primeira república, das dificuldades tributárias, existentes desde 1946, da fragilidade das instituições desde 1889. Ou seja, fala-se muito, escreve-se muito, legisla-se muito, para que tudo fique exatamente como antes.
O PT ao chegar ao poder completamente descaracterizado, completamente civilizado e domesticado, vendeu sua alma, e entregou-a em pira olímpica, onde todos os sonhos de construção de uma democracia plena e responsável, foram sacrificadas pelo pragmatismo de ocupar e diluir o Estado, dentro do partido. Como todo bom e velho esquerdismo, não há interesse em mais democracia, em mais participação, mas na criação de um imenso Estado, ordenado, dominado e a serviço de uma facção política que fala em nome do POVO, seja lá quem for este povo!
Parlamentares jamais ensejarão mudanças do processo político, porque eleitos por ele. Vamos deixar de ser ingênuos, qualquer alteração do processo político pode se tornar mortal para Waldemares da Costa Neto, para Josés Sarney, para Barbalhos, Severinos, Tiriricas e outros.
Como foi bonito a criação da tal Frente Parlamentar pela Reforma Política com Participação Popular, composta por deputados e dezenas de entidades da sociedade civil, aquelas mesmas que para receber dinheiro público estão vinculadas aos mesmos deputados que querem mudar o sistema político. Quem acredita nisso depois dos escândalos de desvio e malversação de verbas por ONGs em todo o Brasil. E mais, depois de levantar a ponta do véu que cobre o Iceberg, por que a imprensa se calou e os partidos não conseguiram levar em frente uma CPI?
Tais esforços se frustraram e hão de frustrar-se sempre porque o Estado brasileiro está a serviço de estamentos e oligarquias que podem se acomodar, mudar de feições, mas são poderosas no momento de cooptar, de mimetizar, e hoje Lula da Silva foi não só cooptado, mas mimetiza e se integra a oligarquias. Não esqueçamos que Lula da Silva é pai de filhos italianos, já que dona Mariza responsavelmente procurou a nacionalidade daquele país para seus filhos “para lhes garantir o futuro”.

Na realidade a indignação de Erundina é bonita de se ver, é um momento especial de coerência e dignidade política, mas infelizmente é ato isolado, é ato que não corresponde, infelizmente, à índole do brasileiro médio que só quer se dar bem.
Sinceramente, entre Lula da Silva e Paulo Maluf, sou muito, mas muito mais Paulo Maluf, que em confissão pública, se disse acertadamente, muito mais comunista que Lula da Silva.

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