Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

segunda-feira, 2 de julho de 2012

CUBO





Um filme que aparentemente tornou-se apenas um cult, ou antes de tudo um clássico, daqueles que torcemos o nariz para assistir, CUBO é antes de tudo uma síntese da existência humana.
Catalogado como filme de terror e suspense, em realidade não se encaixa nesta categoria com adequação. É com certeza um filme de drama filosófico e psicológico.
Reúne um elenco interessante, que se resume aos seis, e apenas aos seis personagens que estão presos no CUBO. São eles o policial (Maurice Dean Wint) que tem sua vida desvendada a partir do comportamento que apresenta no desenrolar da trama, um expert em fugas (Wayne Robson) que tencionado e no momento que expressa o seu desligamento do grupo morre, uma matemática (Nicole de Boer) que deprimida, não encontra nenhum motivo que a torne necessária para a construção de um plano de fuga, uma médica psiquiatra neurótica com dificuldades de relacionamento (Nicky Guadagni), um arquiteto talentoso que se presta a trabalhar sem um objetivo prático (David Hewlett) e por fim um jovem autista (Andrew Miller).
Os personagens se dão conta que misteriosamente estão presos em um labirinto.
Sem comida, nem água, sem comunicação com o exterior e despidos de seus signos de pertencimento e de ligação com a realidade, eles buscam encontrar um meio de sair do local.
No entanto, cada passagem os leva a novos cubos, devendo tomar cuidado para não acionar armadilhas letais, que surgem a cada nova tentativa de encontrar um caminho para a libertação da realidade vivida.
O filme rodado em  1997, tendo como ponto de partida um baixo orçamento, o que pode ser concretizado pela criação de um único cenário que, ao mudar de cores pressupõe a passagem a novos espaços, tem por escopo a construção de uma discussão sobre a existência e a natureza humana!
Tal como nós ao nos darmos conta de nossa existência, fazem-se os personagens a pergunta de onde estão! Depois como chegaram ao CUBO, por fim quem são. As mesmas perguntas que atormentam a humanidade a partir do momento que passa a ter consciência de si própria.
O caminho para sair do CUBO só é possível se todos contribuirem com o que sabem fazer de melhor. Há uma imperativa necessidade de que cada um dê de si o que tem como expertise, para que seja possível escapar das armadilhas (da vida), e por fim, em colaboração, ajudando-se, alcançar o desiderato de libertar-se finalmente da amarga prisão de nossas paixões, de nossos sentimentos vis!
Não há dúvidas que o problema maior enfrentado pelos personagens não é o estarem presos no CUBO sem saberem como e nem porque, como nós estamos presos em nossa existência sem saber como e nem porque.
Buscam ainda em vão um motivo, um desiderato, como nós em relação a nossas vidas. O arquiteto bem esclarece que foi chamado a desenhar o CUBO, mas que ele não tem uma finalidade, como o nosso Universo, e que o pior, não há saída, até que, relata a existência de uma ponte, a ponte que nos conduz à luz.
No entanto o maior desafio são as paixões humanas, o egoísmo, a concupiscência, a avareza, a inveja, a torpeza de nossos sentimentos, o que vai permitir a eliminação progressiva de praticamente todos os personagens, mesmo tendo alcançado a ponte.
Para o arquiteto, alcançar a ponte nada significa, porque não há para onde ir, ou não faz sentido passá-la, porque nada há para ser vivido para além do CUBO, que se esgota em si mesmo.
Para não retirar o prazer de assistir um filme que traz elementos psicológicos e filosóficos espetaculares, basta dizer que o único a conseguir escapar do Universo sem sentido, é o autista, porque o único que não sofre com as paixões humanas.
Uma curiosidade é que os nomes dos personagens fazem referências a prisões famosas: Quentin (San Quentin, nos EUA, conhecido pela violência), Kazan (uma desorganizada prisão na Rússia), Rennes (presídio na França que serviu de molde à muitos outros), Holloway (penitenciária feminina na Inglaterra), Alderson (nos EUA,conhecido por seu isolamento como forma de punição), Leaven e Worth (somando os dois nomes temos Leavenworth, nos EUA).

Um filme espetacular, instigante que teve mais duas sequências que absolutamente não fazem sentido, nem mantém o mesmo nível de instigação.
O que encontramos neste filme é simplesmente a reprodução da triste existência humana, e das mazelas que nos impedem de dar sentido a ela.

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