Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Redundabunt






Estou encurralado num canto de mim, porque tudo em mim transborda com uma violência indizível. Sou incapaz de fazer um dique para todos os pensamentos, todos os sentimentos, todas as dores, todas as considerações, todos os desejos, transbordo. Mas transbordo de uma forma violenta que vai arrancando pedaços, eviscerando-me, expondo minhas fragilidades, tornando visível, risível, minhas insuficiências! Atormenta-me o transbordar de meu pensamento, que arrasta toda consideração, que arrasta tudo que em mim habita, que se choca violentamente com o que me cerca, que me imobiliza num canto, num canto de mim! Habito na presença que a falta de meus amores escavam em minha alma, que se transforma assim num imenso abismo de vazio, de solidão, de um nada, que só busca o sentido do que não tem sentido! Transbordo-me, mas quem há de perceber a violência do que de mim se projeta, quem estará ao meu lado, no canto de mim, chorando comigo, colhendo minhas palavras, minhas dores, minhas faltas, meus pensamentos dilacerantes, os rios de sangue que se projetam de cada porção de mim. Continuo transbordando, diluindo-me numa imensa mancha que penetra o solo, encharcando o caminho que me leva de nenhum lugar para lugar algum... Transbordo-me.

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