Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Morte como sofrimento





Inexplicável entender a morte como sofrimento, apenas uma vida vivida com a má consciência da eternidade, pode lamentar a morte!
Somos finitos, e é esta finitude, sua consciência que nos torna humanos. A urgência de viver, de criar, de deixar em nosso rastro algo que se perpetue, para além de nós mesmos! Esta finitude sagrada, porque inafastável, invencível é o que dá sentido a cada ato praticado.
Loucos são os que buscam remédios para a morte e para o sofrimento, porque nos desumanizam. Pior do que uma sociedade governada por engenheiros ou advogados, seria uma sociedade governada por médicos.
São os médicos seres sádicos, que vivem do sofrimento do outro, que se locupletam com o tormento de nossos medos mais insignificantes. São os médicos os carrascos do prazer e da existência humana. Buscam limpar o mundo do sofrimento, mas o mundo é sofrimento, sem o qual, não haveria consciência da existência e do tempo!
Devemos nos revoltar contra sociedades esterilizadas e esterilizantes, contra proibições de todos os males, porque são os males que me dão consciência de minha humanidade, que me abrem o caminho para uma finitude cheia de prazer, vivida na liberdade de fazer escolhas para o meu bem e para o meu mal!
A medicina, a fisioterapia, a odontologia, a terapia ocupacional, são ciências a serviço da perpetuação do sofrimento, do engodo, da esterilização do mundo, transformado em um grande laboratório de loucos e embrutecidos procurando perpetuar-se, para absolutamente nada!
Quero um mundo governado por poetas, músicos, filósofos, de pés no chão, pouco preocupados com a cor do cabelo, com as rugas dos olhos, com os pés cansados, as articulações grosseiras.
Quero um mundo cheio de dores e desencantos plenamente humanos, sofridos intensamente, em cada segundo, dolorosos, mas verdadeiros!
Quero um mundo onde eu possa lamentar a falta, onde eu tenha de lamentar a falta, onde escutar uma música, possa ser sentido como se fosse a última vez, e viver intensamente o prazer de escutá-la!
Quero um mundo sem UTIs, sem tomografias, um mundo onde o cuidado seja prestado pelas mãos de outro homem, de outra mulher, que se compadecem do meu sofrimento e são capazes de chorar comigo minhas dores, sem me isolar num lugar tão mais triste quanto um manicômio ou um mausoléu!
A eternidade é para os deuses! Maiores que eles somos nós que temos a consciência de nosso existir frágil e finito, e que dele podemos tirar toda a intensidade de um tempo que se acaba a cada segundo, responsável por cada queda, por cada esfolão, por cada dor adquirida, vivida e mantida como patrimônio único de minha unidade como existente!
Que eu exista apenas pelo tempo da música que toca, e oprime meu coração!

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