Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

domingo, 29 de dezembro de 2013

“Marvada” cachaça!




Ela viajara com os pais, afinal era final de ano, e passavam sempre juntos em família. Foram para um Resort luxuoso, numa área de fronteira. Ele ficara para passar as festas com seus familiares, e o ano novo na Ilha, uma ilha, entre mágica e paradisíaca, que só existia na cabeça daqueles que a frequentavam.
Enfim, tudo certo, ele ainda trabalhou mais um dia, e ao final do expediente, como sói acontecer com os denodados causídicos, reuniu-se com uma plêiade de amigos num bar, entre charmoso e casual, com um nome avesso ao direito, e portanto, torto.
Estava lá, indignado, porque tinha sido esfolado pela erupção verbal de uma colega de escritório, cujos saberes jurídicos eram admirados, de maneira uniforme pelos homens e suspeitados pelas mulheres. Mas enfim, naquele dia, TPM, pressa de fim de ano, desejo de desfazer-se do trabalho, sobrou para ele o discurso de Catilina, produzido no afogadilho da hora, para livrar-se dos azares do ano!
Indignado, vai ao Happy Hour, e lá, encontrando a turma em crescente número de companheiros da “marvada”, começa a beber despreocupadamente uns tragos, para poder contar a todos os amigos, os seus infortúnios do dia.
Não que a descompostura tenha sido merecida, muito menos que tenha que ser levada a sério, ou que resista ao final de semana, mas porque conversa de bêbado é contar bravatas, parecer herói, mesmo nas maiores insignificâncias, e tornar o nosso dia-a-dia mesquinho algo digno de um romance picaresco.
Passado algum tempo, ela, de tão longe, liga meiga e saudosa.
As mulheres quando meigas e saudosas, precisam falar, algo como 15 minutos, meia hora, e se pudessem, 12 horas! O que lhes garante atenção e segurança quanto ao conteúdo do pensamento de seus homens!
Inicialmente, educado, respondeu que estava com seus amigos, e que em meia hora ligaria para ela. Ela, chorosa, disse que apenas queria lhe contar o dia.
Uma importante dica para os homens é entender que se elas disserem que querem contar o dia, por favor, fiquem quietos e escutem todas as histórias, na medida em que, por mais irrelevantes para o homem, a relevância está em escutá-las e não em seus conteúdos.
Passadas algumas horas, e após algumas canecas de chopp, ela ligou magoada pela falta de retorno, ou melhor, de ouvidos para a sua história, que ele não entendia, era também a dele!
Ele, cheio de razão, disse-lhe que estava com os amigos, que não queria escutar lamentos, que aquilo não era hora de tentar lhe contar o dia, e que quando ele estivesse em casa ligaria.
O demônio está sempre escondido nos detalhes! Fato é que, perdeu naquele momento a noção do perigo! Ela magoou-se e ele ficou alguns dias entre a vida e a morte, sob uma roseira, pagando os pecados havidos pela “marvada” da cachaça! Qual besta fera, gemia em seu sofrimento, não pela dor que ela causava, mas pela inconsequência de não compreender as necessidades e obrigações inerentes ao compromisso de conquistar e amar uma mulher!
Teve de mandar dúzias de rosas, poemas, mensagens e telefonemas, para desfazer o que, talvez, poucas cervejas tenham provocado.
Aprendera a lição?
Dizem que antes de ir para a Ilha aprazível que só existia em seu pensamento, passou nos capuchinhos para um benzimento preventivo, cuidou de comprar um chip da operadora de telefonia dela, e avisou aos amigos de “manguaça” que se, se ausentasse por algumas horas e estivesse sentado quieto em baixo de uma árvore, era porque estava recebendo o boletim sobre a doença de seu pai, que mesmo internado na UTI, fizera-lhe prometer que não deixaria de ir para a Ilha, mas que ele como bom filho, tinha que se informar e saber do seu estado de saúde.
Crédulos, como todos os homens, os amigos se conformaram com suas ausências constantes e mudas. As mulheres, sabiam que do outro lado, não havia pai em UTI, coisa alguma, mas na realidade, a mulher que lhe havia colocado um cabresto!
E esta foi sua última aparição na Ilha solteiro, e também, dizem, dos últimos Happy Hours num lugar torto.

Emendou-se, sabe-se pouco por quanto tempo, mas dizem as más, ou boas línguas, que apaixonado, amante fiel, ele garante ser por toda a vida, e que morrer de amor, sob roseiras não é para ele, que agora, sabe atender telefones, geralmente do pai que, coitado, sempre não está bem de saúde!

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