Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Uma folha de papel





Estava caminhando à toa, olhava a rua como se fosse um estranho, como alguém fora do tempo.
Havia muito por fazer, mas era exatamente porque tinha muito o que fazer que já não era capaz de determinar com certeza o que deveria fazer antes, o que deveria preceder a todas as outras coisas que deveria fazer.
Caminha pressuroso, já havia passado três vezes pela mesma esquina, sem se aperceber, que naquela circunvolução, mimetizava toda sua história, de sempre voltar ao ponto de partida.
Ansioso, olhava para os olhos das pessoas que cruzavam com ele, mas estas também estavam ansiosas e perdidas em seus próprios pensamentos. Divagava imaginando como eram aquelas pessoas, o que pensavam, no que acreditavam, e buscava com isso, um rasgo de compaixão, um momento de conforto que lhe permitisse cessar a angustiosa marcha para o nada, que lhe fazia retornar sempre ao ponto de partida.
Nada fazia crer que sua busca incansável de fazer o muito que lhe restava por fazer, pudesse se esgotar na torrente de tormentosos pensamentos que lhe assaltavam sem cessar. Um assalto estéril, que apenas deixava como sub-produto a angústia de não saber por onde começar, tudo que deveria fazer, para poder concluir mais este dia, dos muitos dias sem sentido que sua vida descortinava.
Caminhava, e agora já havia passado pelo cruzamento mais três vezes. Parou, sentiu vontade de chorar, de agachar-se e chorar ruidosamente. Mas, pensou, homem não chora. Não que acreditasse nisso, mas era preciso acreditar, porque o mundo simplesmente não tem piedade dos fracos. Uma mulher quando chora é forte, um homem quando chora é um fraco!
Desesperou-se! Sentiu o mundo rodar, e num átimo acreditou que desmaiaria, que seria recolhido por alma bondosa que lhe ofereceria uma migalha de atenção e carinho!
Mas o quê? Uma folha de papel, creme, lisa, incólume veio lentamente pousar a seu lado. De súbito um sentimento de felicidade e prazer o invadiu, agachou-se, olhou fixo para o papel, tirou uma caneta que repousava esquecida em seu bolso, e num momento de furor produtivo escreveu, como uma mensagem para si mesmo:

Não sou, mas existo! Se existo, não existo para o que, nem para quem, mas apenas para deixar de existir em um tempo que não me é dado saber! Assim, estúpida minha andança, porque sempre, e condenado estou, a retornar ao ponto de partida, ao ponto em que, ao surgir para a existência do nada, deixarei de existir para um outro nada, que como nada, me preenche, como eu a este papel. Descobri, sou apenas uma mensagem sem sentido, sem objeto, sem motivo, de alguém que para saber de si, me faz esquecer de mim!

Colocou o papel no bolso, voltou para casa e dormiu o sono dos justos, porque descobriu que sua existência, nenhum motivo tinha, a não ser prever seu aniquilamento. Sendo assim, melhor não se apressar!

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