Há apenas dois tipos de seres humanos, os
mortos-vivos e os vivos-mortos.
Sim porque os mortos que recordamos, que trazemos
em nossa lembrança, que abraçamos com o carinho do não esquecimento estão vivos
em nós. São mortos que estão vivos porque conosco em nossas vidas atribuladas,
em nossos encontros e desencontros, estão em sua descendência, em seus
ensinamentos, restos ou oblíquos, perdidos ou encontrados.
Os outros são vivos-mortos, vivos que morrem um
pouco a cada instante, caminham inexoravelmente para o dia em que passarão na
melhor das hipóteses, a mortos-vivos. Todos teremos que morrer, de uma morte
que é obrigatória e necessária, desencadeada em nós a partir do momento em que
nascemos, por vários mecanismos, que tornam obsoleta e obtusa qualquer ideia de
juventude eterna, ou de mecanismo único que nos leva a envelhecer.
Toda a ciência estúpida que se faz na busca do
mecanismo que nos faz envelhecer e morrer é uma religião pagã que busca uma
eternidade quimérica, numa vida que só faz sentido, na perspectiva de acabar.
Por isso, sendo ainda um vivo-morto, quero poder
deixar de preconceitos, de ódios, de diferenças irreconciliáveis, quero
acreditar no outro, apostar em sua sabedoria, em sua capacidade de amar, nem
que seja por uma única vez!
O mais digno da vida é acreditar que todos os dias
podemos optar por ela, escolher permanecer vivos pelo período, pelo tempo que
nos resta, e que sabiamente não conhecemos, que felizmente não temos a menor
ideia, o que nos permite viver intensamente hoje, apenas hoje, amanhã é mera
possibilidade.
Não precisamos de nenhuma vida eterna, até porque
se Deus efetivamente existe, nele não há ontem, nem amanhã, e assim a
eternidade nele se faz sem a necessidade de um relógio, ou de um martelar de
consciências, culpas e dores.
Estou vivo, e estou morrendo, agora mais que há
alguns segundos atrás e isto me dá uma imensa gratificação, porque como todos
os que me cercam, estou caminhando para o ocaso, um ocaso necessário e feliz,
porque em minha vida não há culpados, o único responsável por todas as minhas
infelicidades, por todas as minhas felicidades sou eu, apenas eu, e assim,
todos que comigo compartilham este dom encantado da vida, estão comigo porque o
desejam, porque dividem comigo as certezas, mas mais que as certezas as
sempiternas dúvidas, grandes, pequenas, infinitas dúvidas.
Basta-me uma única certeza, morrerei, para que
esteja plenamente vivo, intensamente vivo!
Que os mortos-vivos em mim, vivam ainda muito
neste vivo-morto, que os encontrará no caminho da lembrança ou do esquecimento,
mas plenamente satisfeito por ter existido por um lapso de tempo, num planeta
tão insignificante, mas que tinha a grandeza de conceber a si próprio!
Viva a Vida, Viva a Morte, enfim...
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