Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Apenas o Fogo purifica




Quando da criação do SNI o coronel, reformado general, Golbery do Couto e Silva disse ter criado um monstro, não como arrependimento, mas como constatação.
Golbery ainda em sua lucidez política ensinava na Escola Superior de Guerra que todos deveriam olhar com atenção para Lula da Silva porque um dia talvez tivessem que bater continência para o barbudo metalúrgico. E alertava, melhor bater continência para ele que facilmente seria cooptado e tinha convicções cristãs domesticáveis, do que cair nas mãos de líderes mais ideológicos e mais radicais.
A FOLHA constatou que o órgão já extinto, destruiu após o fim da Ditadura Militar mais de 19 mil documentos, incinerando-os. Ora, todos sabemos que só o fogo purifica, porque o único capaz de destruir toda a identidade, a lembrança e a prova de malfeitos.
Para o truculento Newton Cruz, o general que chefiava o inteligente serviço, tudo foi feito de acordo com a lei. Na Alemanha Nazista também, tudo era feito de acordo com a lei, nada para além da lei, e apenas conforme a lei. A pena é que não seremos mais capazes de ver o que os inteligentes e capazes agentes levantaram sobre pessoas tão perigosas e subversivas como João Cabral de Melo Neto e o eterno bardo de Ipanema, Vinícius de Moraes. Uma pena, porque quem já teve acesso aos arquivos, ficará estupefato com a beleza das peças produzidas por aquele órgão especializado.
Documentos como o sintomático "Tráfico de Influência de Parente do Presidente da República” e aqui se falava de Emílio Garrastazu Médici, presidente entre 1969 e 1974, desapareceram, apenas não desapareceram os cascos e mastros de barcos afundados em Laguna em Santa Catarina, onde havia a produção destes por um filho do presidente com dinheiro do Fundo do Trabalhador, segundo crença popular local.
Ao destruir os arquivos o serviço de inteligência trabalhou bem na busca de proteger os torturadores e violadores do direito e da dignidade humana. Realmente foi a única operação de sucesso do órgão, o que devemos reconhecer, posto que ficamos sem saber informações importantes sobre pessoas que encontrávamos na faculdade e que acreditávamos que eram líderes estudantis, lá permanecendo até 10 anos, mas que nunca eram jubilados. Hoje respeitáveis profissionais, alguns até incensados, não se envergonham, porque seu passado virou literalmente cinzas. Estes os encontrei no curso de Medicina da UFPR entre 1979 e 1985.
Como sabemos a justificativa para a destruição foi administrativa, burocrática, simplória mesmo porque para os grupos de opressão política havia necessidade de destruir documentos para arranjar espaço para novos arquivos e fichas. Afinal na época já havia 90 milhões de brasileiros para expionar.
A burocracia tem uma lei infalível. Sempre que criada ela se multiplica indefinidamente, ampliando seu poder, seu custo e sua extensão. Veja-se o recente monstro jurídico CNJ!

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