Em 'Festa no
covil', a vida íntima de um poderoso chefe do narcotráfico - Yolcault, ou 'El
Rey' - é narrada pelo filho. Garoto de idade indefinida, curioso e inteligente,
o pequeno herói, que vive trancado num 'palácio' sem saber a verdade sobre o
pai, reconta sem filtros morais o que presencia ou conhece pela boca dos
empregados ou pela televisão. Seu passatempo é investigar secretamente os
mistérios que entrevê, colecionar chapéus e palavras difíceis e pesquisar sobre
samurais, reis da França e animais em extinção, sempre com o auxílio de seu
preceptor - um escritor fracassado egresso da esquerda. Esse pequeno príncipe,
tão mimado quanto privado de infância, tem um desejo obsessivo - completar seu
minizoológico particular com o raríssimo hipopótamo anão da Libéria. Reveses
nos negócios paternos e a conveniência de o grupo abandonar o México por um
tempo acabam tornando realidade o safári para capturar o tal hipopótamo em
risco de extinção.
Comentando:
A história é uma
alegoria da sociedade utilitarista. O protagonista, um menino, reproduz os
valores de seu pai, um poderoso traficante mexicano, porém sob a ótica de uma
criança. Para o garoto o mundo é sórdido, ou patético, e ele só consegue a
atenção do pai quando pede presentes, quando cria necessidades que só podem ser
satisfeitas pelo pai com grande esforço e assim reforçando os mecanismos do pai
com o mundo. O pai, por sua vez, demonstra seu apreço, e seu poder, realizando
as estranhas fantasias de seu filho. Por meio da narrativa fluida do menino
acompanhamos a aventura e a relação de pai e filho atrás de uma dessas prendas. Uma nova e fascinante superação do realismo fantástico latino-americano. A leitura é instigante, rápida, prende a atenção com facilidade, foge do óbvio
e não se conclui com nada esperado, mas com o óbvio, não terminou.
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