Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

sábado, 21 de abril de 2012

Gostei, vale a pena ler!



Em 'Festa no covil', a vida íntima de um poderoso chefe do narcotráfico - Yolcault, ou 'El Rey' - é narrada pelo filho. Garoto de idade indefinida, curioso e inteligente, o pequeno herói, que vive trancado num 'palácio' sem saber a verdade sobre o pai, reconta sem filtros morais o que presencia ou conhece pela boca dos empregados ou pela televisão. Seu passatempo é investigar secretamente os mistérios que entrevê, colecionar chapéus e palavras difíceis e pesquisar sobre samurais, reis da França e animais em extinção, sempre com o auxílio de seu preceptor - um escritor fracassado egresso da esquerda. Esse pequeno príncipe, tão mimado quanto privado de infância, tem um desejo obsessivo - completar seu minizoológico particular com o raríssimo hipopótamo anão da Libéria. Reveses nos negócios paternos e a conveniência de o grupo abandonar o México por um tempo acabam tornando realidade o safári para capturar o tal hipopótamo em risco de extinção.

Comentando:

A história é uma alegoria da sociedade utilitarista. O protagonista, um menino, reproduz os valores de seu pai, um poderoso traficante mexicano, porém sob a ótica de uma criança. Para o garoto o mundo é sórdido, ou patético, e ele só consegue a atenção do pai quando pede presentes, quando cria necessidades que só podem ser satisfeitas pelo pai com grande esforço e assim reforçando os mecanismos do pai com o mundo. O pai, por sua vez, demonstra seu apreço, e seu poder, realizando as estranhas fantasias de seu filho. Por meio da narrativa fluida do menino acompanhamos a aventura e a relação de pai e filho atrás de uma dessas prendas. Uma nova e fascinante superação do realismo fantástico latino-americano. A leitura é instigante, rápida, prende a atenção com facilidade, foge do óbvio e não se conclui com nada esperado, mas com o óbvio, não terminou.



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