Arnaut Daniel
Siecle XIII
Sol sui qui sai lo sobrafan qu’em
sortz al cor d’amor sofren per sobramar, que mos volers es tant ferms et
entiers c’anc non s’esduis de celei, ni s’estors cui encubic al prim vezer s’e
pois: c’ades ses leis dic a leis cochos motz; pois quand la vei non sai, tant
l’ai, que dire.
D’autras vezer sui secs e d’auzir
sortz qu’en sola leis vei e aug e esgar, e jes d’aisso no’ l sui fals
plazentiers que mais la vol non ditz la boca’l cors, qu’eu non vau tant chams,
vauz, ni plas, ni pois qu’en un sol cors trob aissi bons aips totz, qu’en leis
los volc Deus triar e assire.
Já ai estat a maintas bonas cortz,
mas sai ab leis trob pro mais que lauzar: mesur’e já e autres bos mestiers,
beutat, joven, bos faitz e bels demors; gen l’enseignet cortesia la dois tant a
de si totz faitz desplazens rotz de leis non cre res de já si’a dire.
Nuls jauzimen no’m fora breus ni
cortz de leis, cui prec qu’o volha devinar, o já per mi non o sabra estiers
si’l cors, ses dich, no’s presenta de fors, que jes Rozers, per aiga que
l’engros, non a tal bru c’al cor plus larga dotz no.m fass’ estanc d’amor, quan
la remire.
Jois e solatz d’autra.m par fals e
bortz, c’una de pretz ab leis no’is pot egar, que’l seus solatz es dels autres
sobriers. Ai, si no l’ai, las, tan mal m’a comors! Pero l’afans m’es deportz,
ris e jois,
car en pensan sui de leis lecs e
glotz: ai Deus, si já.n serai estiers gauzire!
Anc mais, so’us pliu: no’m plac tant
treps ni bortz, ni res al cor tant de joi no.m poc dar cum fertz aquel, don anc
feinz lausengiers non s’esbruic, c’a mi sol so’s tresors.
Dic trop? Eu non, sol leis non
si’enois: bella, per Deu, lo parlar e la votz volh perdr’enans que diga ren
que’us tire.
E ma chanzos prec que no’us si’enois
car, si voletz grazir lo son e’ls motz, pauc prez’Arnautz cui que plass’o que
tire.
Só eu é que sei o grande afã que me
invade o coração, de amor sofrendo por demais amar, pois a minha vontade é tão
firme e inteira que disso não se afasta, nem se pode desviar daquela que me
prendeu a primeira vez e depois; que quando está longe longamente lhe falo, e
quando a vejo não sei, tendo tanto, que lhe dizer.
A outras ver sou cego e de ouvir
surdo, que a ela somente vejo, escuto e acato; e não lhe faço aqui falsos
louvores que mais não diz a boca do que o coração quer; pois passo tantos
campos, vales, planícies, montes e num só ser encontro assim as virtudes todas:
que nela Deus as quis reunir e fixar.
Certamente estive em muitas grandes
cortes, mas sei que nela encontro muito mais que louvar: mesura e sensatez e
muitos outros méritos, beleza, juventude, bons feitos, gestos belos; Nobreza
lhe ensinou Cortesia e a dotou; de tal forma de si afastou os defeitos que dela
nenhum bem fica ainda para dizer.
Prazer nenhum me virá breve e fraco
dela, a quem peço que o queira adivinhar, ou já por mim não o saberá inteiro,
se o coração, a sua fala, à força não se mostrar: que até o Reno, quando as
águas sobem, não tem a força que no coração mais corre e me faz estancar de
amor, quando a contemplo.
Alegria e prazer de outra me parecem
falsos e ocos pois o mérito de nenhuma se lhe pode comparar, que o seu favor é
aos outros superior. Ai! se não for minha, helàs! assim me cativou! Mas o afã
me distrai e é riso e alegria
pois pensando, sou dela alegre e
desejoso: ai Deus, pudesse eu já inteiramente gozar!
E mais vos digo: não prezo tanto
jogos e torneios, nem nada ao coração tanta alegria me pode dar como deu
aquela, de que nem os falsos aduladores se gabam, e que para mim só é um
tesouro.
Digo demais? Eu não, assim não se
aborreça ela: bela, por Deus, o falar e a voz quero perder antes que diga algo
que vos canse.
A minha canção peço que não vos
aborreça, pois se quiserdes acolher a música e as palavras, pouco importa a
Arnaut a quem agrade ou canse.
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