Gostaria de dizer parafraseando o grande Ferreira Gullar que com Augusto
dos Anjos conseguimos adentrar, penetrar aquele terreno em que a poesia se
torna um profundo e verdadeiro compromisso com a existência humana, tão
pequena, tão excepcional. Seu discurso niilista compreendido sob o prisma do
compromisso com nossa existência, inexplicável, inaudita, só se torna poético
nesta relação absolutamente inescapável do que é nada e do que é tudo no
pensamento de cada homem. Isto o faz um dos elementos mais vivos, mais singulares,
mais espetaculares mesmo da Literatura Brasileira. Impossível não arrumar um
pequeno tempo para ler a poesia de Augusto dos Anjos, até porque uma vida que
não tenha um tempo para viver poesia, não merece ser vivida!
Concordo com o Doutor em número, gênero e grau. Poderia tranquilamente citar algumas,entretanto, SOLITÀRIO me traz a ligação do nada e do tudo no pensamento de cada homem.
ResponderExcluirNão posso deixar de alertar que a poesia não está estagnada no tempo. O leitor pode apreciá-la em momentos diversos de sua vida e nela encontrará o acalento necessário para o viver.
DL
SOLITÁRIO
Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me á tua porta!
Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos conforta.
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!
Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
- Velho caixão a carregar destroços -
Levando apenas na tumba carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!