Agora que o Superior Tribunal de Justiça – STJ –
reconheceu o direito de mulheres casarem, muitas perguntas estão sem respostas.
Até 1962 para que a mulher pudesse trabalhar, tinha de ter a autorização do
marido, até 1977, casar no Brasil era aventura para destemidos que acreditavam
na eternidade do vínculo. Nossos filhos não saberão o que vem a ser desquite,
nem mesmo separação judicial. Muitos acreditavam que o divórcio abria uma
"fábrica de menores abandonadas", não abriu!
Todas as sociedades ocidentais evoluíram num mesmo
sentido e há 35 anos o divórcio foi aprovado com muita discussão, o que pensar
da união de pessoas do mesmo sexo? Fala-se tanto em legalização do casamento
gay, mas esta é uma abordagem completamente equivocada, porque só há uma
espécie de casamento, entre duas pessoas que se amam.
Recentemente o Supremo Tribunal Federal reconheceu
a União Estável entre pessoas do mesmo sexo, não há o que impeça a mesma
interpretação para o casamento, porque a Constituição assim o exige. O Brasil
tem como "objetivos fundamentais" a construção de "uma sociedade
livre, justa e solidária", e não pode deixar de ''promover o bem de todos,
SEM PRECONCEITOS de origem, raça, SEXO, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação".
Na Constituição "a família, base da sociedade,
tem especial proteção do Estado", e o casamento "é civil e gratuita a
celebração", declarando ainda que ''para efeito da proteção do Estado, é
reconhecida a união estável (...) como entidade familiar. DEVENDO A LEI
FACILITAR SUA CONVERSÃO EM CASAMENTO" assim, é dever da lei e do Estado,
facilitar a sua conversão em casamento. Não estamos inventando o casamento gay,
não estamos criando nada, cumprimos um mandamento constitucional. Importante
anotar que em 27 de junho de 2011, o juiz de direito de Jacareí, o Dr. Fernando
Henrique Pinto em sábia decisão reconheceu a conversão de união civil de dois
cidadãos, em casamento.
A decisão absolutamente conforme ao direito interpretado
pelo STF permitiu a União Estável de pessoas do mesmo sexo. Os obstáculos que
porventura pudessem existir à conversão destas Uniões em casamento vêm agora
apenas de convicções religiosas. Mas o Estado brasileiro é laico e não pode
discriminar, ou usar de preconceito para aqueles que se reconhecem como
homossexuais.
O Congresso debatia desde 1996 propostas que
autorizassem a parceria civil entre homossexuais. Ora, a compreensão de que o casamento
é a união de dois pombinhos que dormem na mesma cama todas as noites, se amam,
dividem as contas, são fiéis, moram sob o mesmo teto, brigam com certa
regularidade para depois fazerem as pazes é o que entendemos por casamento, e
os heterossexuais jamais o contradiriam. Então casamento gay já existe, porque
ele é exatamente assim. Como não há nada que proíba um homem de casar com outro
homem, e também nada que proíba uma mulher de casar com outra mulher, aquilo
que a lei não proíbe, é permitido!
Não faz mais sentido o Congresso tentar aprovar a
lei autorizando que pessoas do mesmo sexo tenham acesso à parceria civil,
nossos políticos perderam o tempo, estão fora do processo. O reconhecimento
pelo STJ da possibilidade do casamento entre homossexuais não é uma conquista
gay sem precedentes no Brasil, é uma conquista sem precedentes para todos os
brasileiros. As vitórias na Justiça podem e devem ser entendidas como a
afirmação do reconhecimento de direitos iguais.
O Estado não pode fazer diferença entre pessoas por
causa da condição sexual. O princípio, expresso na Declaração Universal dos
Direitos Humanos, de que todos somos iguais perante a lei, deve ser considerado
para compreender que o debate sobre casamento gay é um confronto entre
cidadania e valores morais. O que pode justificar a rejeição moral ao casamento
de pessoas do mesmo sexo? Para encontrar uma resposta minimamente razoável,
temos de buscar as raízes da rejeição nos valores religiosos. As religiões
monoteístas com as necessidades populacionais, de organização da sociedade e de
prevalência do patriarcado foram as razões que determinaram o repúdio à
homossexualidade. Tal não ocorreu na Grécia e em Roma, sociedades muito mais
evoluídas. A condenação bíblica à homossexualidade busca garantir a
descendência e a multiplicação do "povo de Deus".
Hoje nos revoltamos contra a escravidão, mas nas
escrituras há escravos. Como não compreendemos a realidade da homossexualidade,
tratamos o fenômeno como algo diferente, temos de dissecá-lo, despi-lo de sua
natureza absolutamente humana e comum. Para a ciência trata-se de orientação
sexual, condenamos que seja uma opção, porque não consideramos que as pessoas
possam ser responsáveis por seus desejos. A história das relações homossexuais
é tão antiga quanto a humanidade, e muitas vezes não significou depreciação do
humano, basta lembrar Safo de Lesbos, Alexandre o Grande, Ricardo Coração de
Leão, e tantos outros que marcaram a história. Esta condição apenas existe, e
isto basta.
O direito de se casar é um sonho dos homens e
mulheres que amam um ser humano do mesmo sexo, constitui isso um marco de
aceitação pela sociedade? Obviamente não. A aceitação dos homossexuais não
passa pela aceitação do Casamento Gay. Antes o casamento é uma conquista de uma
sociedade que quer se libertar de tutelas que a infantilizam. Curioso observar
que os homossexuais lutaram tanto para conseguir o direito de casar, quando os
heterossexuais estão cada vez menos preocupados com ele. Aqueles que se colocam
como adversários do casamento gay dizem que autorizá-lo ameaça a instituição
casamento e que assim, enfraqueceríamos os valores de família. Por que amanhã
não permitiremos a poligamia (e já não somos em muitos casos uma sociedade
poligâmica)? Por que duas pessoas? E por que não três? Não nos é possível medir
os efeitos positivos e negativos do reconhecimento do casamento homossexual. O
que acontecerá com a família? Com o casamento? Ele continuará existindo como
uma instituição presente na sociedade, como sempre existiu, apenas diferente.
Outro problema é a adoção. A Holanda é o único país
a dar pleno direito de adoção. O que faz supor que os gays não possam educar
crianças sem afetar o desenvolvimento delas? Nada. Pais de sexo diferente não
são, nem de longe, garantia de boa educação. O que garante uma boa educação é
muito amor, dedicação e o objetivo de construir um ser humano digno, livre de
qualquer preconceito, e útil a sociedade. A psiquiatra Carmita Abdo, do
Hospital das Clínicas de São Paulo, que coordenou o projeto "Sexualidade",
esclarece: "Quando subvertemos o papel da mulher e ela deixou de cuidar
dos filhos em casa para trabalhar muita coisa mudou. Estamos piores? É questão
de opinião. Creio que tivemos perdas e ganhos. Mas prever essas alterações
antes de elas acontecerem é praticamente impossível." Quando a mulher
precisou sair para trabalhar, o seu papel de provedora do lar se confundiu com
o papel masculino e isso não arruinou o casamento e muitas vezes garantiu uma
melhor educação para as crianças, recuperando um papel estereotipado sobre a
condição feminina.
Especialistas analisaram pesquisas disponíveis
sobre o tema para o Journal of Divorce and Remarriage ("Jornal do Divórcio
e Recasamento") onde afirmaram que todas tinham falhas metodológicas,
impedindo uma análise criteriosa da existência de qualquer influência sobre a
criação infantil. Tal análise levou à conclusão óbvia de que os pesquisadores
dos dois lados estavam engajados numa causa e terminaram por constatar:
"Não precisamos apenas saber se existem diferenças. Temos uma decisão
moral a tomar: a sociedade teria o direito de prevenir a criação de indivíduos
que eventualmente seriam mais abertos a comportamentos e relacionamentos
homossexuais?".
Devemos nos preocupar se tivéssemos mais gays no
mundo? Tolerar a diferença é uma arte, que deve ser exercitada com muita
sabedoria e dedicação todos os dias! Ou alguém aí, que é casado com uma pessoa
do sexo oposto, não tem que fazer todos os dias, um exercício enorme de
tolerância, de dedicação, apenas para dizer, sem nenhuma reserva... Eu te amo!
Encontramos na profundidade da alma do outro, vista
a partir da janela entreaberta pelos olhos, a inesgotável possibilidade de ser
feliz, e ser feliz pressupõe não considerar absolutamente nenhum defeito,
nenhuma qualidade, apenas e tão somente, amar. Se é por um homem ou por uma
mulher, não faz diferença. A diferença está no amor que se dá, sem condição. Assim,
é de se perguntar: Como é que é, Casamento Gay? Não, senhores! Apenas
Casamento.
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