Millôr Fernandes que foi
cartunista, jornalista, cronista, dramaturgo, roteirista, tradutor e poeta,
nasceu no Rio de Janeiro em 1923, cerrou pela última vez os olhos em 27 de março
de 2012. Choramos sua ausência, mas foi na hora certa, posto que este mundo não
lhe permitiria viver.
Luiz Felipe Pondé,
filósofo, professor da USP, tem denunciado repetidamente a estupidez do
politicamente correto. Em recente entrevista no dia 29 de março de 2012, no
mesmo dia que se publicava uma reportagem sem sentido na Folha, alertava que o
politicamente correto nada mais é que uma censura fascista do pensamento.
Voltando a Millôr, não
podemos esquecer que como contínuo nos Diários Associados, mal completados 14
anos, e ficando pelos cantos do jornal a rabiscar desenhos e escrever pequenos
textos, foi chamado por Assis Chateaubriand em 1938, para preencher um espaço
vazio no Diário de São Paulo, e nunca mais parou de escrever.
Contribuiu com sua genialidade
para revistas como O Cruzeiro, que em seu auge chegou a ter 750.000 leitores,
num pais de 55 milhões de habitantes com mais de 35% de analfabetos.
Lutou contra a censura míope, canhestra e risível da ditatura militar, com um pequeno grupo de amigos. Fez um jornal, marco de transformação na imprensa brasileira, O Pasquim. Dizia
ele “O Pasquim foi um jornal feito por meia dúzia de malucos e que alterou o
contexto da imprensa brasileira.”
Em sua última entrevista
publicada em livro concedida a Ivan Pinheiro Machado em 2011, dizia Millôr que “A
repressão sexual. Era violenta. Mas você não imagina como o filtro da família
potencia a repressão. É ela que te proíbe tudo.”
Era Millôr, hoje não é mais
a família que nos reprime sobre a sexualidade, hoje a repressão parte das
tribos de politicamente corretos, de feministas e de esquerdistas
mal humorados.
O absurdo de tudo isso é
que a menos de 50 anos muitos brasileiros morriam pugnando pela liberdade de
expressão. Saiam às ruas com imensa coragem, buscando poder se manifestar, sem
medo de serem condenados por suas opiniões. Queriam poder fazer piadas, fossem
de bom ou mal gosto, que pudessem ter apenas o público alvo como juiz de sua
qualidade e propriedade.
Rafinha Bastos teve contra
si mobilizado o Estado Juiz, para impor-lhe uma condenação pecuniária por ter
feito uma piada grosseira, mas ainda assim uma piada. A revolta falso
moralista, e a sentença no Judiciário, são expressões chocantes do caminho
absurdo que trilhamos, o caminho da exceção e do arbítrio.
Recentemente o Conselho
Nacional de Educação, um daqueles órgãos que ficam lá na encantada Brasília, a
milhares de quilômetros da realidade do Brasil, expediu um parecer sugerindo
que não seja distribuído nas escolas públicas o livro “Caçadas de Pedrinho”. Ainda,
prosseguia o douto parecer, recomendava a proibição de sua leitura nas escolas
privadas. O motivo de tal proibição foi
a descoberta de que a obra de Monteiro Lobato era racista.
Não fosse o pedido fruto da
iluminada pena de uma especialista em candomblé, acreditaríamos que teriam sido coronéis de 80 anos os autores do parecer.
Esta história começou
quando um aluno de mestrado da UNB denunciou a obra de Monteiro Lobato à
Secretaria de Promoção da Igualdade Racial. O absurdo aqui é termos um mestrando
censurando um dos maiores escritores brasileiros, do que decorre uma escolha.
Censuramos Monteiro Lobato, ou expulsamos do mestrado o fascista censurador.
Outro problema é uma
Secretaria de Promoção da Igualdade Racial. Afinal, existe ou não existe o conceito
de raça. Durante décadas a esquerda e a intelectualidade lutaram para fazer
crer a todos os homens e mulheres de bom censo que não existe qualquer
justificativa para se amparar o conceito de RAÇA. Mas instalado um governo de
esquerda, a primeira coisa que fez foi criar mais um órgão voltado para estabelecer a
igualdade de uma diferença que não existe.
Imaginemos Vinícius de
Moraes com seus charutos e cigarros, sentado nos bares de Ipanema, escrevendo
versos e cantando, embalado por cervejas, whiskies e outros aperitivos,
escrevendo as mais belas páginas da cultura nacional. Agora transplantemos ele
para os anos que correm. Impensável, porque as feministas se revoltariam, os
esterilizadores da vida aplastariam sua presença pouco sadia, as leis contra o
álcool dariam como exemplo a ser execrado o seu comportamento. Tristes trópicos.
Mais triste ainda é saber
que um repórter sem imaginação, buscando notoriedade, tenha escrito uma
reportagem sobre uma cartilha de calouros na Faculdade de Direito da UFPR, e
com isso tenha feito rádios, televisões e jornais da capital provinciana do
Paraná se engalfinharem em condenações estúpidas do humor adolescente nela
contido.
Se o humor é grosseiro e ofensivo a própria sociedade se encarregará de faze-lo perder-se no limbo da
memória. Mas se ele for, mesmo que incorreto, inteligente e instigador de uma
crítica mais profunda da sociedade, ganhará notoriedade, e poderá então
construir-se como alternativa à monotonia do certinho, do correto, daquilo que não
pode ser dito, porque ofende sensibilidades.
Não se trata de defender
qualquer postura dogmática, ou de se solidarizar com os textos criticados, mas
de defender o direito de expressão, sem o qual o Estado poderá, quando lhe
aprouver, criar mecanismos de opressão para defender o direito das minorias,
minorias estas que estarão encasteladas no poder. Minorias estas que ditarão os
seus valores a uma maioria estupidificada, após laboriosa instrumentalização do
Estado.
Desde o final do século
XVIII lutamos pela liberdade de expressão, não é possível, nem honesto, negar
que há abusos desta, mas para isso existe a lei, que se não contempla nossa
vontade de silenciar as diferenças é porque a sociedade assim o quer. Quando
uma lei não contempla nosso desejo de punição daquele que pensa diferente de
nós, este não é um problema, não é uma dificuldade. Isto é Democracia.
Depois de séculos lutando
pela tolerância e pela liberdade, em nome de que valores queremos agora
recuperar a intolerância e a violência da diatribe opressiva?
Podemos errar, mas vamos
errar em nome da Liberdade! Onde houver homens e mulheres livres, aí estará,
com certeza, nosso maior patrimônio. Nossa Humanidade!
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