A
poucos dias noticiou a FOLHA que a histórica Faculdade do Largo de São
Francisco a prestigiosa Escola de Direito da USP, foi condenada pelo Judiciário
a devolver R$ 1 milhão de reais, doados à Faculdade. Como bem salientou
Gilberto Dimenstein, tal episódico é marca explícita da vanguarda do atraso de
setores acadêmicos brasileiros!
O
fato resume-se em que, um banqueiro doou à faculdade de Direito a quantia que
agora a USP é condenada a devolver. O que pedia em troca? Apenas que ao
utilizar o dinheiro para a reforma do histórico auditório da faculdade,
fosse-lhe prestada homenagem na forma de uma placa onde constasse o seu nome
como doador dos recursos para a reforma, perpetuando assim a memória de alguém
que tem respeito e carinho pela instituição.
Tal
procedimento é absolutamente normal na maior parte do mundo desenvolvido e
civilizado, onde alguém dispõe de uma parte de sua riqueza, em prol de setores
da sociedade, permitindo a preservação do patrimônio histórico, criando bolsas
de estudos, constituindo fundações de desenvolvimento educacional, científico e
social.
No
entanto os grupos de vanguarda do atraso, que se identificam com a esquerda
fossilizada, acreditam que isto é apenas a satisfação de um desejo egoico e que
pactuar com isso é alinhar ao que há de pior na burguesia endinheirada. Ora,
perguntar não ofende: nos EUA muitas cátedras têm o nome de seu fundador e
daqueles que constituíram os fundos que permitem o desenvolvimento de estudos,
pesquisas e a constituição de uma massa crítica intelectual a partir de
iniciativas absolutamente privadas. Então contra o que a nossa iluminada classe
universitária da USP está se revoltando?
É
que no Brasil o dinheiro parece ter cheiro, assim, o dinheiro de um banqueiro
deve ter algo de mal cheiroso, já que ele provém de atividades absolutamente
privadas, fruto do trabalho, do esforço e da perseverança de alguém que correu
riscos para a construção do patrimônio. Muito mais fácil é pedir dinheiro do
governo, que pode aumentar os impostos sem limites, tungar a sociedade, e
distribuir uma riqueza “inesgotável” para estas classes iluminadas, que assim
não se conspurcam com o dinheiro do mercado.
Ocorre
que este dinheiro de impostos, que é retirado de toda a sociedade e que cria
uma situação de crônica estagnação de crescimento, onera proporcionalmente
muito mais o pobre do que o rico, e vai sustentar exatamente os filhos da elite
que são muito melhore preparados para chegar à Universidade pública e gratuita.
A
estulta criação das cotas sociais torna o problema ainda mais evidente ao
contrário de minorá-lo, porque ao invés de exigirmos uma escola pública de
qualidade que permita ao filho do povo disputar de igual para igual com os
filhos da elite, eu apenas crio uma reserva de mercado para a mediocridade.
Sim, porque não há mais necessidade de melhora da escola pública, ela pode continuar
a ser ruim, porque há uma reserva de vagas para os seus esquecidos clientes, que
assim permanecem ludibriados e fraudados no seu direito de conhecer. Pior,
muitos deles conseguem entrar na Universidade pública e gratuita por meio da
cota da mediocridade e depois, por imensas dificuldades sociais e econômicas,
vão abandonando os cursos, numa demonstração do erro político da escolha.
Não
acredito, ao contrário do colunista da FOLHA, que a família do banqueiro Pedro
Conde tenha que deixar o dinheiro lá, mesmo sem a placa. Por quê? Porque a
ignorância, a estupidez, o absoluto non-sense de se negar a homenagem, único pedido
de contrapartida, numa doação de R$ 1 milhão de reais, não deveria ser apenas a
devolução, mas também uma condenação por dano moral, porque negar-se a colocar
a placa é fazer um pré-julgamento da memória de alguém que não desmerece a USP,
não desmerece à sociedade, que não envergonha a sua família, é uma ofensa, é
realmente uma violência contra a memória do mecenas.
Ora,
a atitude da Escola de Direito da USP é um desserviço à razão, é uma forma de
deseducar as gerações futuras, e um desrespeito à memória de alguém que tem
como único pecado amar a faculdade de direito do Largo de São Francisco, e de
por isso, ter um dia sonhado em ter seu nome numa placa, para que as gerações
futuras se sentissem estimuladas a fazer o mesmo, na proporção de suas
possibilidades.
A
estupidez ideológica não tem limites. Não podemos esperar que a dor da família,
e a ofensa inexplicável, tenham que ficar limitadas a um bom mocismo que os
professores e os alunos de direito da USP não se julgaram no dever sequer de
observar.
Alea
jacta est: e devolva-se o dinheiro todo!
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