Quantos de nós ouvimos falar de Anita Berber? Muito poucos,
porque burgueses, bufões de uma cultura absolutamente nula de valores não
utilitaristas. Underground, talvez a expressão de tudo que vale a pena. Anita
nasceu em Leipzig de pais que gostavam mais da música do que um do outro,
resultado de um amor insensato, pela música e pela arte. Terminou como tinha
que acabar em divórcio e abandono. Abandono de Anita. Foi Anita, gauche na
vida, viver com a avó na Alemanha do fim do Império e início do longo e triste
sofrimento da primeira guerra, onde restava a fome, a violência e o abandono.
Já aos 16 anos mudou-se para a Berlim efervecente deste período e em 1918 já
atuava em filmes, começando a dançar nua em 1919. E pensarmos que tem gente que
acha que isso é grande coisa em 2012. Construiu-se em sua androginia, em sua
maquiagem pesada que desafiava o gosto burguês do tempo.
Cabelos vermelhos, desafiadores, modelo de Otto Dix, no
quadro “A Dançarina Anita Berber”, um desafio à estética decadente que se
imporia nos anos inomináveis do nazismo, anos da mediocridade emergida da
estupidez da sociedade ocidental toda, americana, francesa e inglesa, e por
consequência alemã. Sebastian Droste, outro ator andrógino, amante e
companheiro de muitas obras cinematográficas como Algol de 1920, estabeleceu o
costume de junto com Anita não usar mais que tangas estreitas como desafio da
insensatez do século perdido.
Sua nudez e androginia completas em aparições públicas
derrubaram taboos. Viciada em drogas e bissexual expôs de maneira acabada e
maravilhosa, a diversidade da natureza humana. Frequentava com naturalidade
hotéis, clubes noturnos e cassinos, andando muitas vezes completamente nua
apenas com uma zibelina de pele. Tinha também a coragem de ser acompanhada por
um macaco de estimação, bem como com um broche de cocaína, produto utilizado
pelo neurologista Freud para induzir hipnose. Flertava com homens,
mulheres e o que não parecia uma coisa ou outra.
Os preconceituosos a chamavam prostituta e alcoolista, mas aos
29 anos deixou o álcool, para só então morrer, o que a privou de ser levada a
um campo de concentração, certamente, a partir de 1933, quando a estupidez
ganhou status de Estado.
Um exemplo de liberdade, coragem, desafio de uma sociedade
absurda e insensata. Admirável, apaixonante! Livre, como não podemos, ou
melhor, estupidamente, não temos a coragem de ser!
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