Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Um ídolo! Anita Berber



 
Quantos de nós ouvimos falar de Anita Berber? Muito poucos, porque burgueses, bufões de uma cultura absolutamente nula de valores não utilitaristas. Underground, talvez a expressão de tudo que vale a pena. Anita nasceu em Leipzig de pais que gostavam mais da música do que um do outro, resultado de um amor insensato, pela música e pela arte. Terminou como tinha que acabar em divórcio e abandono. Abandono de Anita. Foi Anita, gauche na vida, viver com a avó na Alemanha do fim do Império e início do longo e triste sofrimento da primeira guerra, onde restava a fome, a violência e o abandono. Já aos 16 anos mudou-se para a Berlim efervecente deste período e em 1918 já atuava em filmes, começando a dançar nua em 1919. E pensarmos que tem gente que acha que isso é grande coisa em 2012. Construiu-se em sua androginia, em sua maquiagem pesada que desafiava o gosto burguês do tempo.

Cabelos vermelhos, desafiadores, modelo de Otto Dix, no quadro “A Dançarina Anita Berber”, um desafio à estética decadente que se imporia nos anos inomináveis do nazismo, anos da mediocridade emergida da estupidez da sociedade ocidental toda, americana, francesa e inglesa, e por consequência alemã. Sebastian Droste, outro ator andrógino, amante e companheiro de muitas obras cinematográficas como Algol de 1920, estabeleceu o costume de junto com Anita não usar mais que tangas estreitas como desafio da insensatez do século perdido.
Sua nudez e androginia completas em aparições públicas derrubaram taboos. Viciada em drogas e bissexual expôs de maneira acabada e maravilhosa, a diversidade da natureza humana. Frequentava com naturalidade hotéis, clubes noturnos e cassinos, andando muitas vezes completamente nua apenas com uma zibelina de pele. Tinha também a coragem de ser acompanhada por um macaco de estimação, bem como com um broche de cocaína, produto utilizado pelo neurologista Freud para induzir hipnose. Flertava com  homens, mulheres e o que não parecia uma coisa ou outra.
Os preconceituosos a chamavam prostituta e alcoolista, mas aos 29 anos deixou o álcool, para só então morrer, o que a privou de ser levada a um campo de concentração, certamente, a partir de 1933, quando a estupidez ganhou status de Estado.
Um exemplo de liberdade, coragem, desafio de uma sociedade absurda e insensata. Admirável, apaixonante! Livre, como não podemos, ou melhor, estupidamente, não temos a coragem de ser!
 

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