Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

terça-feira, 24 de abril de 2012

Janio de Freitas e o Até onde e até quando?



No dia de hoje, 24 de abril, um dos mais importantes repórteres da FOLHA, Janio de Freitas, discute a sequência aparentemente interminável de episódios de corrupção no Brasil. Questiona-se sobre o emendar-se de uns em outros episódios, em uma inflação de imoralidade.
Discute-se sobre alguns aspectos políticos brasileiros, mas restringe a questão ao mundo político. Ora, o mundo político é reflexo de nossa sociedade, da nacionalidade que construímos. Nossa falsa moralidade é a causa última deste descalabro.
A própria imprensa atua como mecanismo de reprodução, não só da sensação de que há realmente um avanço da imoralidade pública, como é seletiva nesta denúncia irrefreada, promovendo alguns órgãos como sacrossantos altares da moralidade e em contrapartida, questionando outros sem o menor critério.
Concordo com Janio de Freitas quando diz que não é a impunidade a causa da imoralidade e da corrupção, mas é antes um fenômeno suplementar. Diria mais, a impunidade no Brasil é consequência da construção do Estado que fizemos, nós e nossos antepassados e que somos incapazes de corrigir em seu rumo.
Tenho visto muita indignação e falação sobre a corrupção. No entanto, vejo pais esperando filhos em fila dupla na frente da escola particular, como se aquela apropriação do espaço público fosse absolutamente natural, normal e nada reprovável. Vejo cidadãos comprando automóveis e SUVs cada vez maiores em nossas já saturadas ruas das cidades, invocando o direito de ter o seu mega veículo, como prova de seu sucesso, de seu status de ocupar espaço não de dois carros, mas de três, para poder ser visto.
Estacionamos em qualquer lugar e buscamos falar com um amigo no serviço de trânsito, se por azar, um agente tiver a insensatez de multar-nos, nós que somos amigos, filhos, parentes ou conhecidos de qualquer autoridade pública.
Apropriamo-nos de maneira indecente da coisa pública, mas julgamos imoral quando o outro o faz! Agora, é bonito e absolutamente correto falar mal do Carlinhos Cachoeira, para muitos a própria encarnação do demônio, ainda mais com sua relação incestuosa com o poder via Demóstenes Torres o anjo caído.
Ora, só existem Carlinhos Cachoeira, porque hipocritamente proibimos todo o tipo de jogo de azar conduzido pela iniciativa privada. Por quê? Por uma única e simples razão, devemos criar dificuldades para vender facilidades. Precisamos de mais policiais, de mais fiscais, de mais promotores, ou seja, o Estado se reproduz, criando falsos moralismos, dificuldades incoerentes e contrárias ao desejo humano.
Não gosto de jogos de azar, não aposto nada em jogos, mas acredito: uma coisa absolutamente sem sentido é proibir tais jogos porque inerentes a um dos aspectos mais importantes do macaco glabro que somos, nossa necessidade lúdica de jogar, todo o tempo. Assim, proibir jogos é permiti-los sob condições inconfessáveis.
Assim como todo discurso sobre a necessidade de controle sobre a mídia. Ela nasce cheia de boas intenções, cria a necessidade de um imenso e esclarecido grupo de profissionais técnicos a serviços do Estado, que necessitarão de um imenso aparato para poder desenvolver as suas atividades de maneira competente, e por fim, sai muito mais caro impedir que se tenham publicações absolutamente indecentes, do que termos que educar para que as pessoas não as leiam e firam de morte tudo que for de mau gosto!

Carlinhos Cachoeira é inocente! Mais inocente ainda é o pobre, tímido e abobalhado Demóstenes Torres! São inocentes sim, eles são apenas o resultado da necessidade de cumprir com o desiderato da lei que proíbe os jogos de azar, que é o de tornar a exploração deles clandestina, fazendo assim com que haja corrupção política, social e policial, com a multiplicação de leis, de penas, de discursos inflamados, de número de policiais e de consciências hipócritas.
Como diz Janio este “colar de episódios escabrosos” vai parar quando houver na mídia e na sociedade a necessidade de parar de falar de corrupção e aparecer outra necessidade, nem mais nobre, nem mais ética, nem mais valiosa, apenas mais rendosa para a venda de jornais e para o enaltecimento das falsas consciências.
Outro subproduto deste mar de lama fabricado e desejado, é que em breve teremos um cansaço intenso com a discussão da corrupção, e ao final teremos um punhado de frágeis políticos derrotados, abrasados e afastados do convívio social, mas Sarney, Calheiros, Barbalho e outros permanecerão fazendo o que sempre fizeram sem oposição, porque blindados pelo efetivo poder que interessa as imensas redes de clientelismo.
Mas também não há que bradar e vociferar contra o clientelismo, ele faz parte de nossa sociedade, da construção do nosso povo enquanto identidade. Costuma-se dizer sem nenhum fundamento que o nosso problema é que só veio para o Brasil a escória da sociedade portuguesa, os degredados.
Mas vamos ser honestos, não vieram para o Brasil a elite da sociedade alemã, polonesa, italiana, russa, francesa, inglesa e japonesa. Quem veio ao Brasil veio porque passava fome em seus países, porque não tinha perspectivas sociais ou econômicas, não eram desejáveis em suas próprias sociedades, mas eram sim, parte da massa de indesejáveis que todas as civilizações em crise põem em movimento para diminuir a necessidade de dividir o bolo. Nosso país recebeu-os a todos, de braços abertos, mas por óbvio um dos mecanismos necessários de proteção de comunidades desenraizadas social e culturalmente é o desenvolvimento de intensos laços de dependência. Ora, daí o surgimento de nosso clientelismo social e político!
Outro aspecto que não pode ser esquecido, rimos de nossa história, ridicularizamos os nossos governantes do passado e das nossas instituições. Como podemos respeitar nossos políticos e nossas instituições se somos incapazes de tecer um juízo histórico positivo e crítico sobre elas? Com certeza ao olharmos para os Estados Unidos temos forçosamente que lembrar os escritos de Alexis de Tocqueville. Mais do que isso, observar que os americanos têm um agudo sentido de democracia, república e de respeito e amor pelas suas tradições!
Quantos de nós sabemos muito sobre a guerra de independência dos Estados Unidos, mas acredita que nossa independência foi proclamada por um príncipe genioso ao largo de um riacho inexpressivo chamado Ipiranga, e pronto, estava feito o Brasil?
Bom, e como questão última de reflexão fica colocada uma discussão! Corrupção, que vem de corromper, é um desvio, é um não estar conforme, o que pressupõe que exista uma norma, uma conduta correta e valorada. Onde tudo parece ser corrupção, vale a pergunta, em relação a que valores? Em relação a que sociedade? Em relação a que regras morais?
Não acho nosso país mais ou menos corrupto que os outros, o que somos é muito bestas, somos os mais falsos moralistas cidadãos do planeta, fingimos uma consciência política que não é nossa, e a aplicamos sempre que necessário, por motivos que jamais seriam expostos à luz do dia. Elegemos deputados e senadores para nos dar bem, depois que eles se dão bem e nos ajudam com migalhas, então ao serem pegos, no que fazem por ordem natural das coisas numa sociedade apolítica, então elevamos nossa voz com a indignação geral.
Por favor, não há nada mais imoral, inconstitucional e indecente do que a Lei da Ficha Limpa! Uma democracia em que vão se construindo barreiras a quem pode ser eleito só pode estar sofrendo de esquizofrenia, ou porque consideramos os eleitores incapazes de votar criticamente e com consciência política ou porque somos incapazes de amadurecer o regime republicano e democrático, tendo de construir mais normas e penas, mais leis, mais órgãos fiscalizadores e, portanto, mais impostos, mais proibições, mais poderes em mão de poucos, e obviamente, inapelavelmente, mais corrupção!
Que sociedade queremos? Vamos deixar o povo votar! Temos medo? Vamos parar de passar de bons moços, não há corrupção no Brasil, apenas um bando de aproveitadores que gostam de explorar na mídia fatos absolutamente conformes com a consciência nacional, buscando ganhos não tanto publicáveis! Daí senhores, quem são os corruptos?
Não esqueçamos, onde há um corrupto, há um corruptor, onde há ambos existe uma sociedade e uma imprensa que busca dar-se bem!
Estou começando a gostar do Lula, ele dizia nunca saber de nada, por isso o povo o adora! Realmente não sabia, por quê? Porque saber é desnudar o óbvio, porque saber é ter de fingir que se acredita no oposto do que se faz, e é por isso que ele é um genial animal político, muito mais parecido com o povo brasileiro do que qualquer outro político de nossa história!

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