Muitas vozes tem se levantado contra as declarações
do ex-presidente do STF, Ministro Cezar Peluso, quando do término de seu
mandato à frente do Excelso Pretório. No entanto, há que analisar com muita
responsabilidade tudo que disse, e disto extrair o que acredito, lições
importantes sobre a realidade jurídica e política brasileira, dos tempos que
vivemos.
Entre as acertadas afirmações que o Ministro fez
temos esta que é sem dúvida irrefutável:
“O Poder
Executivo no Brasil não é republicano. É imperial”.
Não há dúvidas quanto ao acerto da afirmação, e a
conclusão com que o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal nos brinda, está
fundamentada no descumprimento da Constituição e das decisões do STF, pelo
Palácio do Planalto, em matéria orçamentária e penal, posto que não se possa esquecer
os recentes casos de refúgio a quem necessariamente, por força de lei, tinha
que ser expulso, em passado recente. Estamos plenamente de acordo que o Brasil
tem um Executivo muito autoritário, o que faz forçoso lamentar a falta de
independência do Congresso. A Constituição de 1988, como concertação entre
forças reacionárias e democráticas, não conseguiu sequer restituir ao Congresso
a prerrogativa de controlar os impostos e o orçamento, que se assinale foi a
razão do próprio surgimento do Poder Legislativo.
É curioso observar que o nosso povo quando fala do
presidente, sempre se refere a este como seu representante, como aquele que
está lá para governar em seu nome. Curioso, porque num sistema
presidencialista, onde o poder executivo de forma nefasta acumula a chefia do
Estado e a chefia do governo, o presidente representa apenas um projeto
político, de uma facção ou grupo, e recebe um mandato para administrar a coisa
pública.
No entanto, os legítimos representantes, sofrem o
achincalhe da mídia, do governo, dos humoristas, de todos. Tal desmonte da
credibilidade do Congresso, este sim o local onde estão os legítimos
representantes do povo, para o bem e para o mal, é um mecanismo de enfraquecimento
das instâncias democráticas e uma alienação do povo da responsabilidade com o
seu voto e com os eleitos.
O Presidente não é o representante do povo. É o
representante de um grupo com um projeto político. Diga-se de passagem, José
Dirceu é um discípulo brilhante de Poulantzas. Quem desejar saber os próximos
capítulos da história do Brasil e sua relação com a instrumentalização do
Estado, leia-o.
Uma das coisas mais absurdas que aprendi na escola,
ou melhor, que desaprendi, foi que o Brasil, e muitos professores de história
faziam piadas e riam à socapa, foi o único país do mundo que teve uma
constituição com quatro poderes, a de 1824, a do Império do Brasil. Sim, muitas
vezes vi professores fazendo piadas, e assim jovens e adolescentes achando que
o Brasil é mesmo uma brincadeira, o que explica o desdém na hora de votar e de
ser responsável por sua representação.
No entanto, nem o Brasil foi o único país a ter os
quatro poderes, e basta ver a Constituição Política da Monarquia Portugueza que
vigeu de 1826 até 1910, mas ainda compulsar a história para ver que os
constitucionalistas de 1823 no Brasil estavam alinhados com o que havia de mais
moderno no pensamento da disciplina, já que a teria dos quatro poderes, com a existência
do Moderador é criação do filósofo do direito francês Benjamin Constant de Rebecque
(não confundamos com o tupiniquim Benjamin Constant Botelho de Magalhães de
louvada, mas triste história!).
Desde o advento da República, nada republicana, tal
poder moderador, foi incorporado ao Exército e aos presidentes, que se julgam
acima da Constituição, dos poderes e da lei. Tal transparece no desrespeito
pela coisa pública que permeia nossa sociedade, pela insegurança jurídica que
nos aflige, e pela falta de respeito pelas instituições que marcam nossa
prática política.
Ora, e bem assinala Cezar Peluso, se o Executivo
não cumpre ordens judiciais, por que o cidadão haveria de fazê-lo?
Coisas para repensarmos! E viva o Rei!
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