A história da
sexualidade é tema fundamental que tem, desde sempre despertado um grande
interesse da sociologia, da política, da religião e do Direito todos, ramos do
saber humano que tentam interpretar e adequar as mudanças de mentalidade pelas
quais passou a humanidade em todos os séculos.
Ao estudarmos as
práticas sexuais e de controle da natalidade, percebemos que os historiadores e
os juristas concluíram que estes são fenômenos em constante transformação, que
evidenciam características culturais do período em que se inserem.
O aborto é então um
divisor de águas da moral das religiões e culturas. Por motivos religiosos,
muitos são contra a interrupção voluntária da gravidez em qualquer um de seus
estágios. Há também aqueles que a aceitam ainda nos primeiros meses, mesmo
contrariando suas Crenças. Talvez estes, porque sabedores que por ano, morrem
no mundo 200.000 mulheres em função de abortos mal realizados, em condições
subumanas, fruto do preconceito e da arbitrariedade de uma moralidade
hipócrita. Desde 1946 morreram mais de 12.000.000 de mulheres que por não
poderem, ou não quererem ter filhos pagaram com sua vida, a nossa ignorância,
um holocausto multiplicado por dois, em nome da moral e dos bons costumes. Em
que tal genocídio difere em seus princípios dos perpetrados pelas leis alemãs
de 1933-1945?
Em 2000 anos de
cristianismo, houve uma mudança de opinião teológica muito grande a esse respeito,
partindo desde a proibição radical do aborto até a sua aceitação, em função do
conceito de animação, que para os homens acontecia aos 40 dias de vida
intra-uterina e para as mulheres no 80º dia. Dizia-se que o aborto só poderia
ser pecado se o feto estivesse animado, formado, ou seja, com características
humanas, doutrina que prevaleceu por quinze séculos. Assim, é de se perguntar
porque a espiritualidade moderna não se tornou mais flexível, e não mais severa
e completamente descolada da realidade social e cultural da sociedade ocidental
contemporânea.
É o problema do
aborto complexo, incomodo e de arestas dolorosas, que não pode ser afastado da
agenda pública, apesar de todo o esforço dos puritanos de impedir sua discussão
madura e racional. A omissão ou o tratamento superficial do tema não fazem
nenhum bem a uma sociedade capaz de olhar de costas, enquanto a cada ano morrem
milhares de jovens mulheres, adolescentes, em sua grande maioria pobres, porque
o não discutir o aborto é também uma forma de seleção econômica. Sem esquecer
que muitas mais sofrem graves lesões como conseqüência de abortos inseguros e
carregados de estigmas sociais e morais.
É importante que se
compreenda que não se está a fazer a apologia do aborto, que não se trata de
propagandear o aborto, ou sequer, de convencer quem é contra a tornar-se a
favor, trata-se antes de alertar para que não seja imposto a ninguém o direito
ou o dever de levar uma gestação indesejada a termo! O ser humano não merece
esta condição! Busca-se com esta discussão um duplo efeito: por um lado
permitir ver a verdade dos fatos, para além das declarações de princípios e da
letra da lei. Por outro, permitir conhecer o desenvolvimento que o tema
adquiriu como processo coletivo.
Muito há que fazer
para que se desenvolva uma tomada de consciência coletiva e que se produzam
avanços legislativos, que, como ocorreu agora com o 3º PNDH, enfrentam o eterno
retorno da confusão entre Estado e Igreja.
Trata-se de
descriminalizar a Interrupção Voluntária da Gravidez, sem que se permita a
prática de qualquer violência contra a maternidade desejada e a mulher, aquela
que em última instância é a juíza natural sobre o desenvolvimento e o
nascimento de um novel ser humano.
Só a mulher tem o direito de decidir o que vai se passar com seu corpo...sem restrições!
ResponderExcluirLiberdade requer responsabilidade!
Parabéns pelos textos.